Folha de S. Paulo


Gatos-pingados

RIO DE JANEIRO - Quando tomou posse na prefeitura carioca (mais tarde seria governador), Negrão de Lima arregalou os olhos quando os técnicos em urbanismo informaram-lhe que havia 8 milhões de ratos na cidade. Perguntou: "Como é que vocês contaram?".

No Carnaval, em certos eventos e no Réveillon, a mídia chuta números astronômicos. Agora, na visita do papa, a informação geral foi que na praia de Copacabana havia 3 milhões de "peregrinos" numa das cerimônias. Recebi do leitor Peter Bauer uma carta esclarecedora:

"Praia de Copacabana. Comprimento: 4.000 metros. Largura média: 100 metros. A mídia local contagiou a mídia estrangeira, mantendo em uníssono que 3 milhões de fiéis estavam na praia, todinhos ao mesmo tempo! No sábado, 27 de julho. Sem descontar os obstáculos que diminuem a área total (palco, restaurantes, quiosques, barracas, facilidades públicas etc.), o simples cálculo é que se a densidade média de cada m² da área fosse de três pessoas por m², o total poderia chegar a 1,2 milhões.

Claro que, na prática, a densidade três só se dá perto do palco, sendo que, depois de um certo raio, o grau de densidade diminui progressivamente para até menos de um.

Um ex-pesquisador suíço com conhecimento de causa afirma que, nesse dia, teve 560.000 [pessoas], margem de 30.000 para mais ou para menos. Também disse que o recorde dos últimos 20 anos foi no Réveillon de 1999-2000, com quase 700.000."

Em 1964, quando lancei na Cinelândia o livro de crônicas "O Ato e o Fato", que escrevia no "Correio da Manhã" contra o regime militar instalado naquele ano, o mesmo jornal informou que havia 3.000 pessoas na praça, incluindo as escadarias da Biblioteca Nacional e do Theatro Municipal. Os jornais que apoiavam a ditadura garantiram que só havia 18 gatos-pingados.


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