Folha de S. Paulo


Dengue e febra amarela na mídia

A Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi) lança amanhã em Brasília seu mais recente estudo sobre o comportamento dos meios de comunicação social brasileiros na cobertura de situações de risco.

Trata-se do livro indicado ao pé deste texto, por enquanto disponível apenas eletronicamente, sobre os casos de dengue e febre amarela ocorridos no Brasil em 2008.

A importância desse tipo de trabalho é fundamental para a compreensão exata do que faz o jornalismo. Quando a sociedade parece ingressar na era "pós-factual", em que só existem opiniões, independentemente da realidade, é fundamental haver quem lance âncoras de objetividade possível, com a compilação sistemática, segundo métodos reconhecidos, de dados verificáveis para que os cidadãos cheguem a conclusões seguras sobre o que os cerca.

É o que faz esse livro. A pesquisa apura como seis jornais impressos (entre eles a Folha) e quatro telejornais de redes nacionais cobriram a ocorrência de casos de febre amarela no Centro-Oeste e a epidemia de dengue no Rio de Janeiro, nos quatro primeiros meses de 2008. Depois de estabelecer a consensual importância da mídia nessas situações e demonstrar a necessidade de estabelecer um "triângulo da confiança" (entre governo, academia e meios de comunicação), o texto mostra como houve problemas, especialmente no caso da febre amarela, na interlocução entre esses três atores fundamentais.

O livro registra intensos ataques feitos contra o comportamento da imprensa no caso da febre amarela, mas conclui que "embora identifiquem equívocos importantes nessa cobertura, os números não corroboram integralmente as críticas negativas dispensadas ao noticiário relativo às duas enfermidades".

Por exemplo, "contrariando a percepção de alguns dos entrevistados para o presente estudo, os números revelam certa precaução dos veículos de mídia em intitular a ocorrência de febre amarela como uma epidemia. Enquanto em 53,7% dos textos publicados nos diários analisados a dengue é tratada claramente como epidemia, quando a febre amarela está em foco o índice é de menos de 14%".

A análise do material veiculado pelos diários demonstra que 70% dos textos sobre febre amarela traziam como fonte um membro de uma das três esferas do Poder Executivo. Ou seja, não mais que 30% do material pesquisado tem como fonte primária todos os outros atores possíveis.

A maior deficiência detectada na cobertura foi ela ter desprezado aspectos para prevenir as crises em 2007, com informações sobre a proximidade de uma possível nova temporada de dengue, e situações similares no futuro, ignorando políticas de saneamento básico, o Programa Saúde da Família, o PAC da Saúde e as discussões do Orçamento.


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