Folha de S. Paulo


Estranhos no ninho

Renato S. Cerqueira/Futura Press/Folhapress
Prefeito João Doria e o governador Geraldo Alckmin participam de almoço-debate promovido pelo Lide, na zona sul de São Paulo
O prefeito João Doria e o governador Geraldo Alckmin

BRASÍLIA - Já virou novela. Dia sim, outro também, Geraldo Alckmin e João Doria lavam roupa suja pelos jornais. As juras de amor e lealdade ficaram no passado. O relacionamento dos tucanos entrou naquela fase em que tudo termina em queixas e insinuações.

O motivo da crise é o fato de que os dois só pensam naquilo: a Presidência da República. Como o PSDB só pode lançar um candidato, governador e prefeito passaram a se bicar como estranhos no ninho.

Se ainda havia alguma tentativa de disfarçar o mal-estar, ela foi abandonada nesta semana. Doria admitiu mudar de partido se o padrinho não abrir mão da disputa em seu favor. Alckmin se irritou e disse que o "novo" na política é "falar a verdade".

Mais tarde, em entrevista a uma rádio, o governador foi questionado sobre o afilhado. Sua resposta revelou o tamanho da mágoa: "Uma vez meu pai me falou: lembre-se de Santo Antônio de Pádua. Quando não puder falar bem, não diga nada".

O deputado Campos Machado, aliado de Alckmin, foi ainda mais explícito. "Não existe nada pior no mundo do que a traição. O senhor traiu o governador vergonhosamente", disse, em discurso dirigido a Doria.

Não é a primeira vez que o eleitor brasileiro assiste a um confronto entre criador e criatura. O ex-governador Leonel Brizola, que rompeu com sucessivas crias, costumava dizer que "a política ama a traição, mas abomina o traidor".

A novidade no conflito atual parece estar na afobação do prefeito. Apesar da overdose de exposição, Doria está no cargo há apenas oito meses e oito dias. É pouco tempo para apresentar resultados consistentes, além da espuma do marketing.

Por outro lado, Alckmin ainda não conseguiu convencer os partidos aliados de que teria fôlego para vencer a eleição presidencial. O retrospecto não o ajuda. Em 2006, ele se tornou um caso único de candidato ao Planalto que teve menos votos no segundo turno do que no primeiro.


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