Folha de S. Paulo


Fatos desprezíveis

Beto Barata/PR
Moscou - Russia, 20/06/2017) Presidente do Brasil Michel Temer com Vladimir PutinCerimônia de Encerramento do Concurso Internacional de Ballet do Teatro Bolshoi. Foto: Beto Barata/PR ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Presidente Michel Temer com o russo Vladimir Putin em Moscou

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer afirmou nesta terça que o seu governo colocou o país "nos trilhos". Em visita a Moscou, ele disse liderar "a mais ampla agenda de reformas das últimas décadas". "É claro que há lá uma ou outra observação, uma ou outra objeção", comentou o pemedebista, cuja gestão é aprovada por apenas 9% dos brasileiros.

Depois dos autoelogios, ele desdenhou do escândalo que encurralou o governo. "No momento que a economia começou a decolar, de repente acontecem fatos que visam a tentar impedir... fatos absolutamente desprezíveis e desprezáveis", disse.

Enquanto Temer tentava enrolar os russos, novos fatos vieram à tona no Brasil. O principal não foi nada desprezível: o Supremo tornou público o relatório que liga o presidente ao recebimento de propinas da JBS. Segundo o documento, as investigações indicam, "com vigor", que ele praticou crime de corrupção passiva.

Em outra frente, o doleiro Lúcio Funaro afirmou à polícia que o presidente deu instruções para duas "operações" com dinheiro do FGTS. Preso na Papuda, ele disse que o negócio foi recompensado com "comissões expressivas, no montante aproximado de R$ 20 milhões". A quantia não parece desprezível nem para os padrões do grupo que despacha no Palácio do Planalto.

No Senado, Temer sofreu a primeira derrota importante. Com dissidências em três partidos aliados, a Comissão de Assuntos Sociais rejeitou o relatório da reforma trabalhista. O projeto ainda pode ser aprovado no plenário, mas ficou claro que a base do governo não é mais a mesma.

Para permanecer no cargo, o presidente vende a ideia de que a sua queda inviabilizaria as reformas. A votação desta terça dá argumentos a quem defende o contrário. Se o governo voltar a tropeçar no Congresso, os empresários brasileiros podem se convencer de que é melhor abandoná-lo. Para azar de Temer, eles são mais bem informados do que os russos.


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