Folha de S. Paulo


Passo em falso

Miguel Schincariol/AFP
Former Brazilian Economy Minister Guido Mantega (2-R) is escorted by Federal Police agents, after being arrested in Sao Paulo, Brazil on September 22, 2016. Brazilian police Thursday arrested Guido Mantega, a former finance minister under presidents Lula da Silva and Dilma Rousseff, as part of the investigation into the vast Petrobras corruption scheme, media reported. Mantega, who was an important figure in the leftist Workers' Party, was arrested at a Sao Paulo hospital where his wife had undergone surgery. / AFP PHOTO / Miguel Schincariol
Ex-ministro da Fazenda Guido Mantega chega à sede da Polícia Federal, em São Paulo

BRASÍLIA - A prisão de Guido Mantega deu nova munição a quem aponta excessos na Lava Jato. O ex-ministro foi capturado num hospital, onde esperava a mulher se submeter a uma cirurgia. Se havia alguma dúvida de que a operação deu um passo em falso, ela foi eliminada pelo próprio Sergio Moro. No início da tarde, o juiz revogou a decisão cumprida cinco horas antes pela PF.

No pedido de prisão, a força-tarefa alegou que Mantega representava risco à "garantia da ordem pública". Os procuradores também disseram que ele ameaçava a "estabilidade econômica", "mediante a perturbação na circulação livre de bens no mercado", e poderia combinar versões ou destruir provas do processo.

Pela jurisprudência respeitada no país até a Lava Jato, todo acusado tinha direito a se defender em liberdade. A prisão cautelar, sem julgamento, só deveria ser autorizada em caso de necessidade. Mantega tem endereço conhecido, e o Ministério Público não apontou nenhum indício de que ele planejava destruir provas ou fugir da Justiça. O argumento de ameaça à ordem econômica também não para em pé. O ex-ministro deixou o governo há quase dois anos, e seu partido está na oposição desde abril.

Uma operação capaz de rastrear contas secretas no exterior deveria saber que seu alvo da vez estaria num hospital. Ao revogar a prisão, Moro disse que a situação era "desconhecida" das autoridades. Pode ser verdade, mas não é boa propaganda para a Lava Jato, que afirma não ter viés político e se esforça para projetar uma aura de infalibilidade.

O prende-solta acabou tirando o foco do teor das suspeitas, que são graves e devem ser apuradas com rigor. Numa espécie de delação preventiva, o empresário Eike Batista disse que Mantega lhe pediu R$ 5 milhões para pagar dívidas de campanha do PT. O dinheiro teria sido repassado no exterior, o que reforça o peso da acusação. Se não fosse a batida no hospital, o ex-ministro seria o único com explicações a dar.


Endereço da página:

Links no texto: