Folha de S. Paulo


Nem as aparências

Pedro Ladeira/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 25-08-2016, 09h00: A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) acusa os demais senadores de não terem autoridade moral pra julgar Dilma, sucitando a reação dos senadores de oposição à Dilma. Sessão para votação do julgamento final do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, no plenário do senado. O presidente do STF Ministro Ricardo Lewandowski preside a sessão. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
Discussão entre senadores na sessão do julgamento do impeachment de Dilma Rousseff

BRASÍLIA - O ministro Ricardo Lewandowski abriu o julgamento do impeachment com uma advertência. Os senadores deveriam atuar como "verdadeiros juízes", deixando de lado "opções ideológicas, preferências políticas e inclinações pessoais". Caberia a cada um "atuar com a máxima isenção e objetividade, considerando apenas os fatos".

"Espera-se do juiz que utilize uma linguagem escorreita, polida, respeitosa", prosseguiu o presidente do Supremo Tribunal Federal. Todos deveriam se expressar de "forma cortês", observando a "imparcialidade", a "honra" e o "decoro".

Se alguém acreditou no roteiro civilizado, a ilusão durou pouco. Antes do meio-dia, os senadores já trocavam insultos em cadeia nacional. O tumulto começou quando a petista Gleisi Hoffmann disse que ninguém ali teria moral para julgar a presidente afastada Dilma Rousseff.

"Não sou assaltante de aposentado", gritou o líder do DEM, Ronaldo Caiado. "Você é de trabalhador escravo", devolveu Gleisi. O petista Lindbergh Farias tomou as dores da aliada. "Você é canalha", bradou, apontando o dedo para o ruralista.

O nível da discussão baixaria ainda mais. Exaltados, os senadores passaram a se acusar de ligação com o jogo do bicho e até de uso de drogas. Lewandowski precisou interromper a sessão para evitar que Lindbergh e Caiado se engalfinhassem em plenário.

Quando os ânimos se acalmaram, o ministro tentou retomar a ordem. Seguindo as regras dos tribunais, ele declarou suspeita a principal testemunha da acusação, um procurador que havia participado de ato contra Dilma. A ala pró-impeachment deve pedir o mesmo tratamento a uma testemunha da defesa que foi convidada para trabalhar num gabinete do PT.

O primeiro dia confirmou o que já se esperava: o julgamento do Senado será uma rinha política, com os dois lados atuando como torcidas organizadas. Apesar dos apelos de Lewandowski, ninguém parece preocupado em manter as aparências.


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