Folha de S. Paulo


Mulher errada no lugar errado

Com raras exceções, Michel Temer montou um ministério que se divide entre trapalhões e investigados. No primeiro grupo, estão políticos que tropeçam na própria língua, expõem o governo a vexames e são obrigados a voltar atrás. No segundo, os que vão dormir sem saber se acordarão com o despertador ou com uma visita da Polícia Federal.

Agora o presidente interino conseguiu encontrar uma auxiliar que joga nos dois times ao mesmo tempo. Trata-se de Fátima Pelaes, a nova chefe da Secretaria da Mulher.

A rigor, a ex-deputada nem integra o ministério. Embora as mulheres sejam maioria na população brasileira, Temer escalou uma equipe só de homens brancos, honrando as tradições da República Velha.

Diante das críticas, prometeu escolher uma "representante do mundo feminino" para a Cultura. Após ouvir ao menos cinco recusas, anunciou a recriação da Secretaria da Mulher, agora como órgão de segundo escalão. Lá instalou a ex-deputada do PMDB, que exerceu cinco mandatos e foi rejeitada pelo povo do Amapá ao tentar o sexto em 2014.

Pelaes é a mulher errada no lugar errado. Quando estava na Câmara, defendeu a proibição do aborto em casos de estupro, o que significa submeter a mulher violentada a uma nova violência em nome das crenças religiosas de terceiros. Depois recuou e prometeu respeitar a lei em vigor, que permite a interrupção da gravidez nessas situações.

O vaivém garantiu a vaga da peemedebista no time dos trapalhões. Depois o repórter Leandro Colon revelou que ela também é investigada num escândalo de desvio de emendas parlamentares. O Ministério Público a acusa de integrar uma "articulação criminosa" que garfou R$ 4 milhões do Ministério do Turismo.
Procurada, Pelaes disse estar "tranquila de que tudo será esclarecido".

A reportagem foi publicada pela Folha na sexta (3). No mesmo dia, o "Diário Oficial" estampou a nomeação da nova auxiliar de Temer.


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