Folha de S. Paulo


O olhar de fora

BRASÍLIA - A viagem de Dilma Rousseff a Nova York preocupa, e muito, o grupo de Michel Temer. Aliados do vice temem que a presidente consiga emplacar no exterior a ideia de que é vítima de um golpe.

A visão de que há algo de estranho no Brasil já prevalece na imprensa internacional. Em editorial, o britânico "The Guardian" descreveu o impeachment como "uma tragédia e um escândalo". O "New York Times" disse que a Câmara fez um plebiscito sobre o PT, em vez de julgar a acusação baseada nas pedaladas fiscais.

Os correspondentes que vieram a Brasília se impressionaram com o show de horrores que foi a votação do impeachment. Também registraram, com espanto, que o processo foi chefiado por um deputado que é réu por corrupção e tem contas na Suíça.

Agora Dilma deve usar a tribuna das Nações Unidas para amplificar seu discurso. O impacto da viagem preocupa Temer, que tem aproveitado a espera para sabatinar ministeriáveis em São Paulo. "Ele está achando o que todos nós achamos: que é uma coisa absolutamente despropositada", afirma o ex-ministro Moreira Franco, braço direito do vice.

Para Moreira, o discurso de Dilma "não pega porque não tem consistência". "Veja a falta que faz um bom marqueteiro. Se o João Santana não estivesse em Curitiba, ele evitaria esse vexame", provoca.

Antes de a presidente confirmar a viagem, o senador tucano Aloysio Nunes pousou em Washington para pedir o apoio de autoridades americanas ao impeachment. Acabou virando alvo de protesto. Na porta do hotel, estudantes o cercaram com cartazes contra o "golpe no Brasil".

Temer tem razões para se preocupar com o olhar de fora, mas sua tarefa mais urgente é trabalhar a imagem por aqui. Na terça, durante uma rápida aparição pública, um ambulante que passava na rua o chamou de "traidor" e "golpista". Se as palavras usadas por Dilma colarem em sua testa, ele terá dificuldade para governar um país dividido e em crise.


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