Folha de S. Paulo


O vice ansioso

Flávio Canalonga - 14.nov.1985/Folhapress
ORG XMIT: 583601_0.tif Eleição municipal, 1985: Fernando Henrique Cardoso, candidado a prefeito, senda na cadeira do prefeito durante campanha eleitoral. Imagem que fez parte da exposição
Fernando Henrique Cardoso senta na cadeira do prefeito de São Paulo em 1985

BRASÍLIA - Na carta que agravou a crise, Michel Temer disse ser tratado como um vice decorativo. Às vésperas da votação do impeachment, Michel Temer parece um vice ansioso. Ontem ele enviou um áudio a aliados que votarão contra Dilma Rousseff. Recitou a mensagem como se o afastamento da presidente já tivesse sido aprovado pela Câmara.

"A grande missão, a partir deste momento, será a pacificação do país. É preciso um governo de salvação nacional", afirmou, no tom solene que marca seus pronunciamentos.

A gravação deixa claro que o vice não só pede votos pelo impeachment, como já ensaiou um discurso contra Dilma. Ele deve acusar a presidente, sua companheira de chapa nas últimas duas eleições, de deixar uma "herança maldita" no governo.

"O que aconteceu nos últimos tempos foi um descrédito do nosso país, e o descrédito é o que leva à ausência do crescimento", afirmou.

O peemedebista também indicou que ampliará o corte de gastos. Prometeu "prestigiar a iniciativa privada" e sinalizou com um novo e mais duro ajuste, como o que derrubou a popularidade de Dilma.

"Para não enganar ninguém, temos que dizer que teremos sacrifícios pela frente. Sem sacrifícios, não conseguiremos reunir as condições para retomar o crescimento e o desenvolvimento", disse Temer.

Depois que o áudio caiu na rede, o peemedebista afirmou que a fala foi divulgada "por acidente". "Trata-se de um exercício que o vice estava fazendo em seu celular e que foi enviado acidentalmente para a bancada", disse sua assessoria.

A afobação fez lembrar a ansiedade de Fernando Henrique Cardoso na eleição de 1985. Na véspera do pleito, o então candidato do PMDB posou para fotos na cadeira de prefeito de São Paulo. Faltou esperar as urnas. No dia da posse, o eleito Jânio Quadros entrou no gabinete com uma lata de inseticida. "Estou desinfetando esta poltrona porque nádegas indevidas a usaram", declarou.


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