Folha de S. Paulo


A foto que assusta

Pedro Ladeira/Folhapress
Congressistas do PMDB durante oficialização do anúncio de rompimento com o governo Dilma Rousseff
Congressistas do PMDB durante oficialização do anúncio de rompimento com o governo Dilma Rousseff

BRASÍLIA - "Quando, anteontem, o jornal exibia que o PMDB desembarcou do governo e mostrava as pessoas que erguiam as mãos, eu olhei e pensei: meu Deus do céu! Essa é a nossa alternativa de poder. Eu não vou fulanizar, mas quem viu a foto sabe do que estou falando."

As palavras são do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal. Quem viu a foto na "Primeira Página" da Folha sabe do que ele estava falando. Dos cinco políticos do PMDB que comemoravam o rompimento com o governo e gritavam "Temer presidente", três são investigados na Lava Jato, sob suspeita de embolsar propina do petrolão.

O deputado Eduardo Cunha já é réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Os senadores Romero Jucá e Valdir Raupp são alvos de inquéritos que podem virar ações penais. Os três defendem o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

O ministro Barroso não foi o único a se assustar com a foto. A imagem lembrou a muita gente contrária ao governo que só existe uma alternativa de poder em caso de impeachment. Se Dilma for derrubada, quem assume é o vice-presidente Michel Temer. O PMDB, que foi sócio dos governos petistas desde 2004, passará a mandar sem intermediários.

Alguns peemedebistas já admitem que o ato público não foi uma boa ideia. A foto alertou a praça de que a ascensão de Temer interessa a muitos investigados da Lava Jato. Para eles, o vice traz a esperança de um acordão que freie as investigações.

Temer sabe que este cartão de visitas não pega bem fora dos gabinetes do Congresso. Nesta quinta (31) ele se apressou a dizer que "jamais interferiria" nos processos. "Registro com muita ênfase que sou muito atento à institucionalidade e, portanto, jamais haveria de influenciar outro poder", afirmou.

A outra má notícia para o vice é que o ato ainda não surtiu muito efeito prático. Três dias após o rompimento, os seis ministros peemedebistas continuam agarrados a seus cargos, fazendo jus à fama do partido.


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