Folha de S. Paulo


A moral da Câmara

BRASÍLIA - Há sete meses, 267 deputados elegeram Eduardo Cunha para presidir a Câmara. Todos sabiam que o peemedebista estaria na lista do petrolão. Mas ele havia ajudado a bancar campanhas e prometia dar novas vantagens aos colegas.

Em fevereiro, Cunha aumentou a verba indenizatória e anunciou a construção de três anexos com gabinetes e lojas, o parlashopping. Também autorizou o uso de dinheiro público na compra de passagens aéreas para mulheres de deputados. Criticado, revogou apenas a última regalia.

Em março, o procurador Rodrigo Janot pediu a abertura de inquéritos contra 22 deputados suspeitos de levar propina no petrolão. Cunha encabeçou a lista. O Conselho de Ética, que pode pedir a cassação de mandatos, não abriu nenhum processo.

Em abril, um ex-assessor de Paulinho da Força, aliado de Cunha, soltou ratos na CPI da Petrobras. A imagem da Câmara, que já estava no chão, desceu ao nível do pré-sal.

Em maio, a claque da Força Sindical, controlada por Paulinho, gritou palavrões e atirou notas falsas de dólar no plenário. Na semana seguinte, um sindicalista da central mostrou as nádegas durante uma votação.

Em junho, deputados evangélicos interromperam uma sessão em protesto contra a parada gay. Exibiram cartazes com cenas de sexo explícito e fizeram uma oração no plenário. Cunha começou a tocar a pauta-bomba, que sabota o ajuste fiscal.

Em julho, dois delatores da Lava Jato se disseram intimidados pelo presidente da Câmara. A principal advogada do caso deixou os clientes com temor de represálias à família.

Em agosto, Cunha foi denunciado ao STF por corrupção e lavagem de dinheiro. Com medo de irritá-lo, PT e PSDB decidiram não pedir sua cassação. A Força Sindical o chamou de "guerreiro do povo brasileiro".

Neste início de setembro, a direção da Câmara decidiu agir para restaurar a ordem e a moral na Casa. Vai criar um "dress code" e restringir o uso de decotes e minissaias.


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