Folha de S. Paulo


Selvageria em Curitiba

BRASÍLIA - A selvageria da PM do Paraná é mais uma prova de que o país ainda não aprendeu a respeitar os professores. Na Pátria Educadora, escolher o magistério continua a ser um ato de coragem.

As imagens de Curitiba não deixam dúvida sobre o uso desproporcional da força. Os policiais não economizaram em bombas de gás e balas de borracha. Enquanto mães corriam para buscar crianças em uma creche vizinha, a tropa de choque avançava sobre os grevistas. "Se precisar usar a tonfa [cassetete], é por baixo", dizia um comandante.

A pancadaria deixou ao menos 170 feridos. Principal alvo dos protestos, o governador Beto Richa (PSDB) saiu em defesa da PM. "Ninguém pode ser hipócrita de dizer que as cenas não são lamentáveis, mas os policiais ficaram parados, protegendo o prédio público", disse.

O prédio em questão era o da Assembleia Legislativa, onde aliados do tucano aprovaram mudanças na previdência dos servidores. O governo resolveu mexer na aposentadoria deles para tentar fechar o rombo nas contas do Estado. Os atingidos pela ideia foram impedidos de acompanhar a votação no plenário.

Alguém precisa dizer a Richa que a violência contra professores não costuma ajudar governantes em apuros. Em 2013, a PM do Rio protagonizou cenas parecidas com as de Curitiba. A batalha na Cinelândia só fez engrossar as manifestações contra Sérgio Cabral. A rejeição ao peemedebista disparou, e ele acabou desistindo das eleições no ano seguinte.

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O Planalto lançará nesta quinta uma campanha publicitária na TV para defender os cortes de Joaquim Levy. Com o slogan "Ajustar para avançar", a propaganda dirá que as garantias trabalhistas "estão todas asseguradas" e que os cortes visam apenas "evitar distorções e fraudes". Falta combinar o discurso com os parlamentares do PT, que criticam abertamente as medidas de arrocho.


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