Folha de S. Paulo


Meninos do Rio

BRASÍLIA - Asafe William Costa Ibrahim passava o domingo com a família em um clube de Honório Gurgel, zona norte do Rio. Animado, só interrompeu a correria para a mãe tirar uma foto na beira da piscina. Pouco depois, um tiroteio começou na favela vizinha. Ele foi atingido na cabeça por uma bala perdida. Tinha 9 anos.

Larissa de Carvalho saía de um restaurante com os pais em Bangu. Caminhava de mãos dadas com o padrasto quando desabou, sem motivo aparente. A mãe pensou que ela havia tropeçado até encontrar uma ferida em sua cabeça. A perícia esclareceria que a menina foi atingida por uma bala que caiu do céu, resultado de um tiro para o alto. Tinha 4 anos.

Patrick Ferreira de Queiroz estava ansioso para comemorar o aniversário com os amigos na favela Camarista Méier, na zona norte. Andava perto de casa quando começou um confronto. O menino correu e foi alvejado por um policial. Em dois dias, faria 12 anos. A PM afirmou à imprensa que ele trabalhava para o tráfico, o que revoltou a família enlutada.

As mortes de três crianças baleadas em quatro dias prenunciam um ano sangrento no Rio. A escalada da violência não atinge apenas os subúrbios, onde viviam Asafe, Larissa e Patrick. Também se faz notar em Ipanema, onde os arrastões voltaram à praia, e em Botafogo, onde um estudante de 23 anos foi morto em assalto enquanto esperava o ônibus.

O noticiário sugere que a cidade está andando para trás, após uma temporada de otimismo embalado por muita propaganda oficial. Enquanto a confiança na polícia cai, aumenta sua brutalidade: as mortes provocadas por PMs e registradas como "auto de resistência" subiram 40% no ano passado. Foram 582, uma média de três a cada dois dias.

Para tristeza do Rio, tudo acontece ao mesmo tempo em que a indústria do petróleo, motor da recuperação econômica do Estado, vive a pior fase em anos. É um momento de anticlímax na cidade que receberá os Jogos Olímpicos de 2016.


Endereço da página: