Folha de S. Paulo


Governo toma medidas burras que desestimulam indústria e exportação

Lunae Parracho - 3.jul.15/Reuters
Vista de lagos em mina de exploração de minério de ferro da Vale do Rio Doce no parque dos Carajás em Parauapebas no Pará. *** An overview of Ferro Carajas mine, the world's largest iron ore mine, operated by Brazil's Companhia Vale do Rio Doce, in the Carajas National Forest in Parauapebas, Para State, May 29, 2012. The Ferro Carajas produces some 110 million tonnes of ore yearly, transported nearly 900 km (559 miles) to the Madeira seaport terminal by Vale's Carajas Railroad, which according to the company, operates the world's longest train, comprised of four locomotives and 330 cars. Picture taken May 29, 2012. REUTERS/Lunae Parracho (BRAZIL - Tags: BUSINESS COMMODITIES)
Exploração de minério de ferro da Vale, no Pará; royalties têm alíquota elevada

Eventuais erros cometidos no passado recente, por excessos em uma direção, não justificam novos erros na direção oposta.

Três meses atrás, por decreto presidencial, o governo cancelou a ampliação de um benefício que poderia dar impulso à exportação industrial e à economia em geral no próximo ano.

Pelo programa Reintegra, o governo devolve atualmente aos exportadores 2% do valor exportado em produtos manufaturados via créditos do PIS e da Cofins. Isso nada mais é do que devolução de impostos pagos sobre produtos exportados, o que é normal —"não se exportam impostos" é um refrão cantado em qualquer parte do mundo.

A devolução do Reintegra deveria subir dos 2% atuais para 3% em 2018, mas a elevação foi cancelada e com isso o governo espera economizar R$ 2,3 bilhões. É uma economia burra, porque se faz à custa de desestímulo à exportação e à geração de divisas e empregos no país.

Na semana passada, o Congresso aprovou medida provisória que aumenta a alíquota da CFEM (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais) incidente sobre os minérios exportados. Esse tributo é uma espécie de royalty pago pela mineração. A medida atinge principalmente as mineradoras de ferro, que pagam hoje 2% da receita líquida e passarão a pagar até 3,5% da receita bruta, descontados impostos.

O objetivo é obter cerca de R$ 1 bilhão extra por ano para os cofres dos governos municipais, estaduais e federal. Outra medida burra, porque o produto brasileiro perde competitividade internacional e também porque o aumento de custos será obviamente repassado a toda a cadeia produtiva industrial.

Medidas como essas indicam que o Brasil, para tristeza geral, parou de se preocupar com o fortalecimento de suas exportações e de toda a sua indústria. Os exemplos históricos, dos tigres asiáticos e de outros países, deixam claro que a indústria leva ao desenvolvimento econômico.

Por aqui, com o álibi do ajuste fiscal e dos erros cometidos no passado recente, vale tudo. Há um desmonte generalizado de medidas que incentivavam a indústria e as exportações.

O BNDES, ator importante no financiamento de longo prazo, encolheu assustadoramente e deixou uma lacuna que não está sendo suprida pelos bancos privados. Os desembolsos de recursos do BNDES, agora mais caros, foram de R$ 55,2 bilhões entre janeiro e outubro deste ano, valor 20% inferior ao do mesmo período do ano passado. Outubro teve o pior valor de desembolsos para o mês desde 2003.

O abandono a que está relegada a indústria exportadora é tão grande quanto o que atinge as empresas voltadas para o mercado interno.

A China, por exemplo, que tem um enorme excedente na produção de aço, está exportando o produto para o Brasil com preços inferiores ao custo, o que configura operação de dumping. A avaliação do pedido de imposição de tarifa antidumping, que deveria ter ocorrido no início deste mês, foi adiada para janeiro.

Assim, como escreveu o mestre Delfim Netto, aceita-se a destruição de um setor fundamental à autonomia brasileira, "quer por preconceito científico, quer por temor à costumeira retaliação imperial chinesa". E também por ingênuas convicções neoliberais, acrescento.


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