Após três anos de recessão, a economia está estabilizada, para não dizer estagnada. Ninguém sabe exatamente para onde ela vai, mas é possível conduzi-la para o melhor caminho, o do crescimento.
Com realismo, é preciso expor aqui alguns números que mostram a gravidade da situação dos brasileiros para depois concluir este artigo.
Alerta máximo vem da área do trabalho. O desemprego diminuiu um pouco, em razão do agronegócio, mas ainda atinge 13,5 milhões de brasileiros. Esse número é subestimado, porque não inclui as pessoas "desalentadas", aquelas que desanimaram e deixaram de procurar emprego. Estatisticamente, essas pessoas saem do número de desempregados.
Os jovens são os mais atingidos. A taxa de desemprego entre as pessoas de 14 a 24 anos se aproxima de 30%. São escassas hoje as oportunidades para os que tentam entrar no mercado de trabalho.
O drama do emprego se manifesta com mais ênfase em grandes cidades. No Rio, segundo o Caged, 42 mil postos de trabalho desapareceram só no primeiro semestre. Soma-se a isso o atraso nos pagamentos dos servidores do Estado.
O desemprego é, obviamente, a maior causa do aumento da pobreza, que tem números também alarmantes. Segundo o Banco Mundial, haverá no fim deste ano cerca de 40 milhões de brasileiros em condição de pobreza, consideradas pessoas com renda de até R$ 140 por mês. Só neste ano, 3,6 milhões se tornarão pobres. Mais grave, o número de pessoas atingidas pela miséria chegará a 8,5 milhões.
O sofrimento imposto pela pobreza está espelhado nos dados do Bolsa Família, cujo benefício básico é de R$ 85 mensais por pessoa. Só neste ano, 143 mil famílias voltaram ao programa assistencial e 525 mil estão na fila de espera.
Fora da linha da pobreza, a classe média, além do desemprego, enfrenta o endividamento: 57% das famílias estão endividadas, nível que praticamente se mantém desde o ano passado. Do total dessas famílias, 24% estão inadimplentes.
O Brasil precisa ser sensível a esses índices e a outros nas áreas de educação e saúde. Eles pioraram assustadoramente nos últimos anos, numa rota que tem de ser rapidamente corrigida.
Pouco adianta buscar responsáveis pela condução do país a esse caminho tenebroso. A hora é de tomar medidas corajosas para reativar a economia, única forma de reduzir o desemprego, a pobreza e a miséria.
Atitudes heroicas, como corte de gastos, são importantes desde que atinjam despesas correntes, e não investimentos. Altas de impostos, execráveis. Mas, de qualquer forma, essas medidas não vão determinar o rumo da economia. Elas decorrem de estratégia defensiva, retranca, para usar a linguagem do futebol.
Não há salvação para a economia sem crescimento. A deterioração das contas do governo é muito agravada pela recessão. Mesmo que reformas importantes, como a da Previdência, sejam aprovadas, a dívida pública continuará a crescer se não houver retomada econômica que gere receitas públicas.
A política equivocada e omissa que manteve os juros altos tem custo imenso. Os juros sobre a dívida pública chegam a quase 7% do PIB.
Para recolocar o país em crescimento, é necessário ir ao ataque, baixar mais os juros, extirpar o rentismo que domina o cenário há décadas, oferecer crédito com taxas civilizadas a empresas e famílias e prestigiar investimentos produtivos, inovadores e criadores de emprego.
Nada disso exige recursos que não estejam disponíveis. Tudo depende de sensibilidade, obstinação e coragem.