Folha de S. Paulo


Não é preciso esperar nada

Em meio ao clima de um outono tenebroso, chuvoso e frio, o noticiário econômico do início de maio retratou um país em situação catastrófica: o Produto Interno Bruto retrocede cinco anos; a taxa de investimentos é a menor em 21 anos; o Brasil está na lanterna global do crescimento.

Essas notícias vieram com a divulgação oficial do PIB do primeiro trimestre. A produção caiu 0,3% no período, o consumo das famílias, o principal estimulador do crescimento, recuou 1,7%, e a taxa de investimento, 2,7%. O ciclo de contração da economia brasileira já dura dois anos, período em que o PIB encolheu 7,1%, empobrecimento nunca antes visto.

Tudo verdadeiro. Mas as estatísticas do PIB escondiam sinais positivos. A queda trimestral de 0,3% em relação ao trimestre anterior não foi tão ruim quanto se esperava –as previsões, levando em conta indicadores antecedentes, eram mais pessimistas que a realidade e apontavam uma queda de até 1%.

Um olhar para o gráfico dos dados dos últimos trimestres mostra diminuição constante do resultado negativo, que era de -2,0% no segundo trimestre de 2015, caiu para -1,6% no terceiro, -1,3% no quarto e agora para -0,3%. Em maio, os índices de confiança da indústria, do comércio e dos consumidores melhoraram. Se essa tendência continuar, com avanço da confiança, o país poderá alcançar a estabilidade neste trimestre e voltar a crescer no segundo semestre.

É doentia a tendência brasileira de olhar sempre mais para as notícias negativas. A recessão brasileira é profunda, mas começa a perder força e isso precisa ser destacado. Será um grave erro se as forças produtivas não aproveitarem esse momento para promover a retomada.

A parte fiscal é fundamental, mas há outras iniciativas que podem ser tomadas: apressar o máximo possível os acordos de leniência das companhias afetadas pela Operação Lava Jato, para que as empresas em geral recuperem sua capacidade e vontade de investir; atenuar a política monetária altamente restritiva, que mantém os juros desnecessariamente na lua; facilitar a renegociação de dívidas das pessoas físicas e jurídicas usando depósitos compulsórios; manter a política cambial favorável às exportações, que já proporcionam um superavit comercial de US$ 20 bilhões neste ano; avançar nos programas de concessões públicas, que vão gerar novos negócios e empregos.

Claro que é preciso dar um tempo ao novo governo para a implantação das medidas. Mas já há clima para iniciar desde logo o processo de crescimento. Não é preciso esperar nada, nem as medidas citadas acima, nem o ajuste fiscal, nem as reformas, nem a votação do impeachment e nem mesmo a redução dos juros, embora isso pudesse ajudar muito. As chaves que efetivamente abrem o caminho do crescimento são a confiança e o desejo da sociedade. Ela precisa ser estimulada a querer e a buscar isso obstinadamente, sem essa mania de considerar a recessão como um efeito necessário para expiar pecados do passado.

Por essa razão, é indispensável divulgar dados positivos e sinalizar para a sociedade que a tormenta começa a passar e a recuperação está ao alcance das mãos.

No outono gelado, a temperatura política do país esquentou e trouxe mais uma onda de pessimismo. Uma indesejável nova crise política, na verdade, é a maior ameaça à recuperação que começa a se esboçar na economia.


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