Folha de S. Paulo


Indústria

Tenho lido com atenção uma série de analises características de períodos de fim de ano. Todas as previsões que fazem para a economia brasileira em 2016, sem exceções, são bastante pessimistas: a recessão vai prosseguir, a inflação continuará alta, o desemprego aumentará.

Dependendo da tendência do analista, porém, mudam as explicações sobre as origens da crise atual.

Os mais ortodoxos atribuem o fracasso à chamada "nova matriz macroeconômica", constituída pela política anticíclica adotada após a crise global de 2008, pelas desonerações, pelas pedaladas fiscais, pelo câmbio desajustado e pela fixação de juros artificialmente baixos. A isso se juntaria o fato de que o atual governo perdeu credibilidade para conduzir o país.

Os mais heterodoxos atribuem o agravamento da crise à política econômica adotada no ano passado, com juros elevados, voltada à austeridade e ao ajuste fiscal e totalmente descompromissada com o crescimento da produção e do emprego. Incluem entre as causas da crise um comportamento político que consideram revanchista das oposições, adeptas da doutrina do quanto pior melhor.

Não critico os diagnósticos —há méritos nos dois. Observo, porém, que ao propor terapias para curar a crise emerge um consenso entre as duas partes: todos concordam em que o país não poderá superar as dificuldades e retomar a expansão econômica sustentada sem a revitalização da indústria, que é a puxadora do crescimento, mas que enfrenta uma tenebrosa tendência de queda de produção. No ano passado (janeiro-novembro), a redução foi de 8,1%. Nos últimos três anos, de 12%.

De fato, no médio e longo prazo, não há como fazer crescer a economia sem a expansão de investimentos industriais. A indústria chegou a essa situação crítica, é bom lembrar, por algumas razões: longos anos de câmbio excessivamente valorizado, de juros absurdos, de tributação excessiva, de custos trabalhistas elevados e de infraestrutura deficiente. Tudo isso corroeu a produtividade e competitividade das empresas.

O caminho para recuperar de forma sustentável a indústria e, por consequência, a economia pas- sa por esses pontos. O ajuste do câmbio está em curso, e seu efeito já é sentido nas exportações de produtos industrializados. O real foi uma das moedas que mais se desvalorizaram em relação ao dólar no ano passado.

A redução da carga de impostos é um eterno desafio brasileiro. As reformas tributária e trabalhista, sempre pregadas, nunca se completam –não vão além de medidas fatiadas e isoladas.

Os juros civilizados são outra aspiração nacional, embora sejam pouco defendidos ultimamente em razão da onda de conservadorismo monetário.

Na véspera do Natal, li um surpreendente artigo do economista-chefe da Standard & Poor's para a América Latina, Joaquín Cottani, no "Valor". Ele sugeriu, entre outras medidas, que o Banco Central corte a taxa Selic dos atuais 14,25% para 7,25%. Isso reduziria o deficit fiscal de 9,5% para 2,5%, já que os gastos financeiros, que oneram o Orçamento fiscal, devem ter atingido cerca de R$ 500 bilhões no ano passado.

Atenção: quem propõe essa saída para a crise brasileira não é um analista maluco, ortodoxo ou heterodoxo. Trata-se, repito, do economista-chefe para a América Latina da Standard & Poor's, a agência de risco que rebaixou o Brasil por causa de seu deficit fiscal. Nada mais a acrescentar.


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