Folha de S. Paulo


"Rolezinhos for dummies"

Quem está por trás dos "rolezi­nhos"? E quais as intenções? Até onde essa turma quer chegar? São perguntas que valem um milhão. Ou zilhão, dependendo do que acontecer daqui até a Copa.

No sábado, a Folha mandou esta datilógrafa que vos fala cobrir um "rolezinho" marcado para ocorrer no shopping JK. Agi de acordo com as instruções, mas, infelizmente, não tive a boa sorte de ver de perto uma das manifestações mais eletrizan­tes (!) do funk ostentação do verão 2014.

Sabendo que a polícia não ia aliviar e que os shoppings haviam pe­dido liminar à Justiça, a meninada cancelou a fuzarca. Paralelamente e, sendo este um país livre, a Unea­fro (União de Núcleos para Educa­ção Popular de Negros), resolveu or­ganizar, por sua conta e com o apoio dos grupos estudantis e partidos de esquerda de sempre, um protesto chamando atenção para a violência usada contra a criançada nos "role­zinhos" anteriores.

Explico: nos "rolezinhos" nos shop­pings Itaquera e Interlagos, em que aparentemente houve um "furto tentado", 23 menores acabaram detidos sem que nenhum BO fosse lavrado. Soltos, eles seriam ouvidos novamente ontem no 66º DP e dis­pensados. O delegado chegou à conclusão de que não valia mais a pena perder tempo com a história.

Pois é, mas a Uneafro não concor­da. Segundo a entidade, shoppings fechados, presunção de crime sem ocorrência, borracha em cima de criançada, há crime cometido, sim. Estamos falando de discriminação e constrangimento ilegal.

A manifestação que vi no sábado no JK não podia ser mais inó­cua. Mães com crianças no colo, se­nhoras do samba... Onde foi que o JK sentiu-se ameaçado?

Ah, mas no baile funk da Penha...! Sei. Só que o baile funk da Penha que virou arrastão não nasceu de "rolezinho". Nasceu baile funk turbi­nado por destilado e droga. E aca­bou mal como sempre acabam. Era outra galera, outra idade. Os "rolezi­nhos" de que estamos falando -é de "rolezinhos" que todos estão falando, não?- esses não são infiltrados ou orquestrados por ninguém, garan­to. Por quê? Ora, porque os partici­pantes são alienados demais até pa­ra servir de massa de manobra.

Quer conhecer um "rolezeiro"? Olhe para o adolescente ao seu lado. O que você vê? Na maioria das ve­zes, um ser cujo único compromis­so é com a ostentação, não? Então é ele. Ele é o rei do camarote da ZL, o cliente da Petrossian de Paraisópo­lis. Passa pela cabeça que tenha algo a ver com o PSTU ou MTST? Necas! Mais fácil se unir ao PMR, o "Partido Mulheres Ricas".

Usar a internet para estudar? Nunca. Computador existe para acessar a rede e jogar joguinho. De­pois do "rolezinho" é direto para o WhatsApp. Por que houve tanto "ro­lezinho" em janeiro? Férias, ora!

Não há ninguém por trás dos "role­zinhos". O que há é "excesso de zelo" da polícia e de comerciantes vergo­nhosamente aflitos. Há também um desejo secreto por parte da so­ciedade de que uma limpeza étnica mágica varra a periferia e extermi­ne seletivamente só o que incomo­da. Como se fosse possível fazer so­brar só os pobres e pardos que estão aí para servir (manobristas, fren­tistas e garotos que carregam paco­tes no supermercado entre eles). Aqueles que não representam uma ameaça. O resto a gente lima, corta a cabeça e joga no rio.

"Rolezinho" é tão invenção do PT quanto terá sido o queijo suíço. Dil­ma está tentando entendê-lo como fenômeno, Mark Zuckerberg e Sla­voj Zizek também. Já houve "rolezi­nho" em Londres, Roma e em Frankfurt. Trata-se de uma excre­cência criada pelo apelo irresistível do mercado de consumo. Você não aprendeu a conviver com o pente­lho do Facebook? Pois então, se vira.


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