Folha de S. Paulo


Repente do desmantelo

Bom dia, eleitor da Dilma
Bom dia, eleitor do Aécio
Para a minha pobre rima
Segundos de paz lhes peço

A política eu ignoro
De finanças, nada sei
Mas algo parece claro
O país não anda bem

O caso não é pra pranto
Nem tanto pra desespero
Mas esfumou-se o encanto
Disseminou-se um mau cheiro

Governo pisou na bola
Estamos em recessão
Neguinho levou por fora
No esquema do petrolão

Bandido, vá pra cadeia
Canhestro, perca o emprego
E o povo bata panela
Numa sessão descarrego

Bobagem gritar: "Coxinha!"
Inútil reclamar da elite
Dizer: "Ó lá, ó a vizinha!
Batendo sua Le Creuset!"

Se houve, sim, roubalheira
E foram por via errada
Pode reclamar quem queira
Doutor, perua, empregada

Agora, amigo leitor
Vire o ouvido pra mim
Muito cuidado com o andor
Que o santo é de barro, sim

Tem paneleiro honesto
Batendo sua Tramontina
Mas tem brucutu funesto
Tramando ideia ladina

Lobo virou cordeiro
Serpente posa de amiga
Mas isso é tudo gaiteiro
Querendo encher a barriga

Viúva da ditadura
Ladrão, PMDB
Babam, tamanha fissura
De tomar logo o poder

Os Afanazios Jazadjis
Tão levantando da tumba
Os sultões, as Sherazades
Ah! Tão dançando hula-hula

A Bíblia (em leitura rasa)
Fez a tacanha união
Com a "bancada da bala"
Pregando a lei de talião

Querem –ai!– mandar rever
Maioridade penal
Querem proibir na TV
O beijo homossexual

Não é só o ódio ao PT
(Embora achem um acinte)
Desejam retroceder
Pra antes do século 20

Brigam tucanos, PT
E o Brasil é testemunha
Vendo o triste alvorecer
Do trevoso Eduardo Cunha

A burrice do fla-flu
Arruína os brasileiros
E empluma um urubu
Chamado Renan Calheiros

Em coisa de poucos anos
Com este joguinho avaro
Nasceram Felicianos
Medraram os Bolsonaros

Os dois partidos irmãos
Nutridos do mesmo sal
Em vez de darem as mãos
Se fazem Caim e Abel

Se liga, eleitor da Dilma
Se liga, eleitor do Aécio
Se o troço tá ruim assim
Assado, vai ficar péssimo


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