Folha de S. Paulo


Sociedade brasileira precisa retornar ao caminho da 'normalidade'

Ingrid Fagundez/BBC Brasil
Medo do desemprego piora relação entre funcionários e patrões, dizem entrevistados
Anúncios de emprego em poste no centro de São Paulo

Há uma necessidade urgente de a sociedade brasileira voltar ao caminho "normal".

Este caminho inclui: 1) um crescimento robusto da produtividade do trabalho a qualquer coisa como 3% e 4% ao ano; 2) com plena liberdade de iniciativa de todo cidadão e aumento da igualdade de oportunidades; 3) solidária com os que, objetivamente, não têm plenas condições de participar com a sua força de trabalho e 4) sustentável não apenas no aspecto ecológico, mas no equilíbrio interno (taxa de inflação e juro real parecidos com os parceiros internacionais), no equilíbrio externo (deficit em conta corrente sob controle e financiável) e no equilíbrio fiscal: superavits primários para sustentar a relação dívida/PIB com folga suficiente para o exercício de uma política anticíclica.

A nação está estarrecida. Um incesto entre o poder incumbente e parte do empresariado produziu um monstro teratológico: o "poder econômico" submeteu aos seus desejos parte significativa do Poder Legislativo e do Poder Executivo, pelo financiamento criminoso das "campanhas eleitorais", que foi transformado em "investimentos" de alta taxa de retorno econômico! E, por via indireta, estendeu o seu poder a parte do Judiciário, que é submetido à aprovação do Legislativo e que depende de promoção pelo Executivo.

Anulou-se, assim, o instrumento de civilização do capital inventado para dar "paridade" de poder ao trabalho por meio do "sufrágio universal" sem a influência do capital. O mais grave crime cometido nessa apropriação foi ter posto em risco o próprio regime democrático, pelo qual, infelizmente, ninguém será apenado!

Mas é preciso reconhecer que são dois problemas distintos. A economia padece do mais profundo voluntarismo econômico que precedeu a eleição de 2014: a tragédia fiscal que nos devora e deixou como herança 14 milhões de desempregados e cuja superação depende de um mínimo de organização política que possa sustentar as "reformas" propostas pelo governo Temer.

Por outro lado, é preciso deixar claro que não foi o Ministério Público que produziu o incesto: a Lava Jato apenas expôs os intestinos daquela relação espúria. Pode até ter contribuído com alguma redução do crescimento a curto prazo, mas seus resultados serão um importante fator de aceleração do crescimento econômico no futuro.

Neste momento, a intriga em Brasília está mais ou menos desativada, o que exige imaginação da imprensa. Talvez fosse bom ela sugerir aos três Poderes da República que sentem-se na mesma mesa com o "livrinho" na mão, para acertarem sem os desejos de "expansão" da autoridade e dedicarem-se à solução do problema político. Só esse entendimento salvará a democracia...


Endereço da página: