Folha de S. Paulo


Apoio à USP

Eduardo Anizelli - 24.nov.2016/Folhapress
SÃO PAULO, SP, 24.11.2016: USP-SP - Praça do Relógio da Universidade de São Paulo (USP). (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress)
Praça do Relógio da Universidade de São Paulo (USP)

As causas do mal-estar geral visível em todos os países do mundo são: 1) a frustração da esperança da melhoria do bem-estar de cada geração com relação à anterior; 2) as enormes dificuldades de aumentar a igualdade de oportunidades criada pela excessiva concentração intergeracional da renda e 3) o sentimento difuso de que o "sufrágio universal", o instrumento que o "trabalho" inventou para controlar o capitalismo (usar a sua eficiência produtiva sem comprometer a liberdade e a relativa igualdade compatíveis com a "democracia"), está perdendo a sua eficácia.

A propriedade privada e a existência da moeda permitiram uma fantástica acumulação da riqueza, o que corrompeu o poder político, subordinando-o ao capital. Quebrou-se, assim, a "paridade de poder" entre ele e o trabalho, que é o fundamento do equilíbrio da sociedade civilizada.

Episódios como os que estamos vivendo não são raros na história. Ela nos ensina que nenhum deles foi bem resolvido por "revoluções" promovidas por "jacobinos" muito mais qualificados do que os que nos cercam, como testemunham as narrativas da Grécia e Roma antigas e da Inglaterra e da França.

No Brasil, todas as medidas que reduzam a desigualdade e aumentem a igualdade de oportunidades devem ser apoiadas, mesmo quando existirem soluções melhores, mas cujos resultados requerem mais tempo do que a paciência quer aceitar.

Esse é o caso da recente decisão do Conselho Universitário da USP, que estabeleceu reservas de vagas para alunos de escolas públicas e para autodeclarados pretos, pardos e indígenas. Talvez critérios mais objetivos não excluíssem os "brancos-pobres"!

Em 2017, a USP, na média, acolheu 37% de ingressantes vindos de escolas públicas, com 19% de negros e pardos, valores que serão os mínimos para todas as unidades. Há uma objeção de que tal medida reduzirá a "meritocracia" —que parece inaceitável até que haja prova empírica contundente.

Formam-se, por ano, quase 400 mil alunos no ensino médio público em São Paulo, dentre os quais não faltarão talentos. Já existe, aliás, alguns testemunhos de que os beneficiários por "cotas", quando têm um suporte adequado, terminam competitivos.

É claro, entretanto, que a verdadeira causa do problema é o péssimo ensino médio público, que reduz dramaticamente a probabilidade de sucesso de seus alunos no enfrentamento do vestibular.

Trata-se menos de um problema de recursos do que de administração —que os governos estaduais não têm coragem de enfrentar devido à resistência do barulhento e reacionário corporativismo do setor.


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