Folha de S. Paulo


Qualquer previsão sobre o crescimento do PIB é temerária

Fabrice Coffrini/AFP
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, participa do Fórum Econômico Mundial em Davos

A situação social e econômica no mundo e no Brasil atingiu um tal nível de incerteza que qualquer previsão sobre o crescimento do PIB em 2017 é temerária, pois envolve hipóteses implícitas, além das explícitas de eventos internos e externos.

Apesar disso todos precisamos de um "norte" para acomodar o nosso comportamento cotidiano. É impossível viver sem uma perspectiva, seja ela boa ou má. Fazer "previsões" é uma necessidade psicológica. Não é uma aventura mística capaz de trazer para o presente o futuro opaco, sempre aberto às mais surpreendentes possibilidades que, infelizmente, só vemos quando já aconteceram.

Olhado o universo dos "especialistas", que têm de tomar risco por dever profissional, verificamos um espectro muito amplo de "expectativas" para o crescimento do PIB neste ano. O problema é que elas não são independentes (todos se cuidam para "errar juntos" e tornar o seu erro trivial).

Pior, elas não são —a rigor— uma distribuição estocástica da qual se pode extrair os parâmetros de localização (média, mediana, moda) ou de dispersão (desvio-padrão) que façam sentido estatístico. Obviamente, nada impede que o computador as considere como tal e calcule, mecanicamente, tais parâmetros. Ele não tem remorso ou constrangimento.

Tomemos como exemplo, a "previsão" proposta pela sofisticada equipe econômica do Banco Itaú ("Macro Visão", 01/12/2016) e ampliada na magnífica entrevista do seu competente economista-chefe, Mario Mesquita ("Valor", 22/12/2016, A12).

Feita com cuidado e apoiada nas melhores informações (políticas e econômicas), sugere que o PIB, em 2017, teria condições objetivas de crescer 1,5%: 0,6% pela variação da demanda interna e 0,9% pela regularização dos estoques (uma variável frequentemente esquecida).

Se concretizada, Mesquita vê a possibilidade de um crescimento de 4% em 2018. É bom lembrar que o crescimento do PIB médio de 1,5% em 2017 com relação a 2016 é equivalente a uma expansão do PIB, dentro de 2017, da ordem de 2,8% e de 3,8% entre o 4º trimestre de 2017 com relação ao de 2016!

O que se viu até agora com relação a elas foi apenas que são "muito otimistas", mas nenhuma crítica desconstruiu as suas hipóteses.

Revelam, em geral, uma reação psicológica idiossincrática. É evidente que, pela seriedade, pela qualidade e pelo cuidado dessas "previsões", elas têm pouco a ver com a tal "distribuição" das previsões "médias" do "mercado", que andam às voltas de 0,2% para 2017 e 1,5% para 2018, ainda que possam estar nela computadas.


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