Folha de S. Paulo


Lucidez

Talvez o mais difícil problema que resolvemos foi o do processo inflacionário quando ele atingiu o seu paroxismo no governo Collor.

O seu sucessor, Itamar Franco –uma personalidade mercurial–, realizou um governo de boa qualidade: 1) crescimento médio de 4,9% em 1993-94; 2) superavit primário de 5,6% do PIB em 1994 e 3) negociou a dívida externa que se arrastava havia anos.

Com isso construiu as condições internas e externas para um bem sucedido programa de estabilização monetária. Iniciado pelo ilustre ministro da Fazenda Rubens Ricupero e terminado por Fernando Henrique Cardoso (que com ele se elegeu presidente), será sempre lembrado como um corajoso e ousado ato político de um modesto presidente que incorporou e executou o Plano Real, uma fina joia que honrará para sempre os economistas que o conceberam.

Estamos hoje numa situação parecida. O desequilíbrio fiscal em que nos metemos não será resolvido sem uma retomada do protagonismo do Poder Executivo e da volta do crescimento.

Dilma tem de convencer o PT que não há outra saída que não a de aprovar as medidas constitucionais e infraconstitucionais capazes de garantir o equilíbrio das contas públicas no prazo de alguns anos.

Quanto mais crível, isso é, quanto mais rápida for a reconstrução da confiança da sociedade, mais rápida será a volta do investimento e do crescimento. Não há mais tempo! Como diz o velho ditado "se alguma coisa não pode continuar para sempre, em algum momento ela, por bem ou por mal, vai parar".

Esgotou-se o tempo de políticas populistas refratárias às limitações físicas impostas pela realidade qualquer que seja a organização da sociedade: o capitalismo "real" ou o socialismo "real".

Só no pensamento mágico do inexistente socialismo "ideal" da vulgata marxista (pobre Marx, nas mãos da nossa "esquerda"!) ensinado na disciplina de história nas nossas escolas, é que elas podem continuar para sempre...

O PT precisa de um "aggiornamento" como está sendo imposto aos socialistas franceses pelo ministro das finanças Emmanuel Macron.

A presidente sabe o que fazer, dispõe de bons quadros técnicos e tem tempo para enfrentar nossas adversidades. Indo pessoalmente ao Congresso mostrou a sua disposição de assumir o protagonismo que o Brasil dela espera.

A oposição sabe que diante do saudável "principismo" do Supremo Tribunal Federal a probabilidade do seu impedimento é mínima. E a presidente sabe que sem apoio do Congresso, reconstruir o equilíbrio fiscal estrutural é impossível. A nação espera, angustiada, um ataque geral de lucidez!


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