Folha de S. Paulo


Finalmente

É preciso saudar a disposição da presidente Dilma de reassumir com vigor o seu protagonismo. Ele é a condição necessária (ainda que não suficiente) para enfrentar as nossas enormes dificuldades.

Tenta recuperar as condições de governabilidade que perdeu com enorme rapidez a partir da sua reeleição.

As causas foram muitas. Talvez a mais importante foi não ter "explicado" clara e diretamente aos seus eleitores (um pouco mais de 1/3 dos votantes que constituíram a maioria no segundo turno) por que era impossível continuar com o sonho político social e econômico construído pelo marketing eleitoral que a reelegeu.

Quando, sem anestesia, não comunicou -apenas fez saber- aos que a apoiaram que se apropriaria da política econômica do seu adversário perdeu, imediatamente, mais de 2/3 deles e ficou reduzida à aprovação de hoje, da ordem de 9% dos eleitores.
A eficiência do plano de "ajuste" foi prejudicado pela falta de orientação ao Poder Legislativo.

Este, assistindo à confusão do Executivo, transformou o que seria um saudável ressurgimento do seu próprio protagonismo num pobre festival de irresponsabilidade.

O auge da desconstrução foi a remessa ao Legislativo de um orçamento deficitário, com a afirmação de que "não havia o que cortar".

A mensagem foi de uma imprudência assustadora: o Executivo jogou a toalha e pediu ao Legislativo que o substituísse. Foi essa tempestade quase-perfeita, que levou a Standard & Poor's, que havia dado ao ilustre ministro Levy um voto de confiança, a retirá-lo arrependida.

Com a sua mensagem de 2/10, Dilma fez o que deveria ter feito em dezembro de 2014: 1º) reaproximou-se da sua base legislativa da qual se afastara na disputa desinformada com Eduardo Cunha e 2º) cuidou da reorganização interna para dar maior governança ao seu governo.

As mudanças sugerem um recomeço. Tratou-se de uma "ordem unida" para a sua base política, que é a preliminar necessária à solução dos problemas econômicos. Sua qualidade e efetividade se revelarão nas próximas semanas.

No que se refere à administração, a exaltação de algumas medidas cosméticas, de efeito mais psicológico do que prático, foi útil. O fato é que o "ajuste" não é o que se queria, mas avança discretamente.

O discurso de Dilma foi, na minha opinião, o melhor que a presidente já fez.
Algo próximo de um "mea culpa" que transmitiu honesta tranquilidade. Curto e objetivo. Revelou sinais evidentes de que internalizou não só a gravidade da situação, mas também a necessidade de reassumir o seu protagonismo para o bem do futuro de um Brasil civilizado.


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