Folha de S. Paulo


Emergências

A economia nasceu com a busca de conhecimento empírico sobre os mecanismos da organização econômica da sociedade, apoiada na crença que se encontrariam leis "naturais" que revelariam relações que nos permitiriam entendê-la e forneceriam instrumentos para controlá-la.

É fato conhecido a admiração de Adam Smith pelas simplificações sucessivas da ordem "natural" dos movimentos planetários que atingiu a sua explicação "final", na síntese de Newton: matéria atrai a matéria na proporção direta de suas massas e na inversa do quadrado de sua distância (1687). A ela (1905-1916), Einstein acrescentou uma pequena correção da órbita de Mercúrio e uma interpretação para a força da gravidade.

Ao contrário de Smith, os economistas posteriores foram esquecendo a história e aceitando as instituições como dados, "estados da natureza" que não exigiam explicação, a ponto de terem que fingir ignorar Marx para não terem que enfrentar a sua crítica.

Lentamente substitui-se o enfoque empírico (indutivo) pelo dedutivo. Alguns "neoclássicos" fazem da economia um ramo bastardo da matemática. E alguns "marxistas" fazem dela, com suas diatelizações, uma economia que atribui vontades ectoplasmáticas a categorias abstratas. Ambos transformaram-na num "jeux d'esprit" cultivado confortavelmente entre os sacerdotes de igrejas secretas que respondem pelo nome de academia!

Felizmente, desde o final dos anos 80 do século passado, sob a inspiração do grande economista K.J.Arrow, no Santa Fe Institute, um grupo de economistas, biólogos, sociólogos, psicólogos e matemáticos iniciaram o estudo da economia como um sistema complexo em que o comportamento independente dos indivíduos parece gerar uma ordem espontânea como sugeriu Smith. Ela será fortemente matematizada. Mas será bem diferente do que disse o Nobel Robert Lucas: "Cheguei à conclusão que a análise matemática não é uma das formas de se fazer teoria econômica. É a única. A teoria econômica é análise matemática. Todo o resto é apenas imaginação e conversa". ("Professional Memoir", April 5, 2001: 9).

Hoje está estabelecido empiricamente que o sistema econômico tem mesmo a complexidade gerada pela interação de agentes independentes que produzem uma certa auto-organização. O problema é que ele está sujeito "emergências" insuspeitadas, imprevisíveis e destrutivas que o levam ao colapso. Quando, surpreendentemente, o ministro da "propaganda" confessa em documento reservado, que "estamos no caos" é recomendável que o governo e o setor privado introjetem a ideia que alguma "emergência" nos espreita. Talvez a forma de preveni-la seja acelerar o ajuste fiscal.


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