Folha de S. Paulo


Voltar ao normal

Administrar a economia de um país é das mais complexas e difíceis tarefas que desafiam os homens, porque sujeita a miríades de condicionantes: o nível de entendimento da realidade; a forma de enquadrá-la no que se supõe o "estado da arte" do conhecimento fornecido pelo estudo da teoria e, finalmente e decisivo, pela "visão do mundo" que inspira a ação de quem controla a política.

A economia, apesar de sua pretensão científica, é formada por "escolas" que disputam entre si, qual é a melhor forma de organização social que atende a vários objetivos civilizatórios. Enquanto a "natureza" do homem for a que conhecemos –uma combinação de egoísmo com altruísmo, de individualismo com coletivismo, que varia com as circunstâncias que o constrangem–, eles não são inteiramente compatíveis.

Como na culinária, a prova final da qualidade do pudim não está na "concepção teórica" (a receita), mas, sim, quando se come. O século 20 experimentou pelo menos duas receitas que acabaram muito mal. A mais brutal foi a União Soviética, de Stalin, que terminou na destruição absoluta da liberdade e na maior ineficiência produtiva. Só deixou lições negativas. A outra –brilhante sob alguns aspectos–, a iugoslava, de Tito (em oposição a Stalin), ruiu pelo excesso de descentralização democrática. Deixou, entretanto, lições que valem a pena conhecer.

Por outro lado, há longa e consolidada experiência de mais de uma centena de países que adotam a receita "normal", produzida por uma seleção histórica: Estado forte, constitucionalmente limitado, que estimula a liberdade de iniciativa dos cidadãos e a propriedade privada, sustenta instituições que dão previsibilidade à atividade econômica, garantem o bom funcionamento dos mercados e respeitam seus resultados, mas corrigem a sua tendência à flutuação e à concentração da renda.

Este modelo parece ter, mesmo, uma superioridade relativa: tem mostrado que o sucesso ou o fracasso de cada país no que diz respeito ao desenvolvimento com liberdade e ao avanço na igualdade de oportunidades é explicado, em larga medida, pela atenção que lhes dá, em cada momento, o seu poder incumbente.

Um quadriênio (2011/2014) de crescimento do PIB per capita que soma 3,5%; uma inflação acumulada de 27%; uma estagnação da indústria, e um déficit em conta corrente de quase US$ 270 bilhões, não é animador, apesar de ter registrado um aumento de 5 milhões de empregos e uma melhoria na distribuição de renda. É preciso, pois, pensar e anunciar uma política social e econômica para os próximos anos que, sem comprometer os avanços conquistados, lhe dê previsibilidade.

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