Folha de S. Paulo


Notícias da semana traçam cenário melancólico

Pedro Ladeira/Folhapress
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, fala sobre uma possível revisão do acordo de delação premiada da JBS, em Brasília
O procurador-geral Rodrigo Janot fala sobre possível revisão do acordo de delação premiada da JBS

As duas notícias mais fortes da semana desenham um quadro melancólico. Astrapalhadas da Lava Jato no término da gestão de Rodrigo Janot talvez prenunciem um final inglório para a operação moralizadora. O depoimento de Antonio Palocci pode atingir duramente a liderança de Lula. O que restará em pé quando o ciclo atual estiver concluído?

Os áudios "domésticos" entregues pela dupla de falastrões da J&F são menos importantes pelo enunciado de intenções demolidoras em relação ao Judiciário do que pelas indicações de que o braço direito de Janot fazia jogo duplo, comprometendo, talvez, a lisura da denúncia contra Temer oferecida pela procurador-geral da República (PGR). É verdade que se trata de episódio tão intrincado que é difícil saber, ao certo, quem procurava enganar quem. Mas, justamente por ser indecifrável, a opinião pública julgará em função da imagem difusa que a mídia projeta a respeito do assunto, a qual, no conjunto, desfavorece a PGR.

Vale, a propósito, um parêntese sobre o que os norte-americanos chamam de fator "spin". A maneira pela qual as notícias são editadas repercute sobre o modo de reação dos receptores.

Tome-se, por exemplo, a Folha e "O Globo" de quarta (6). Enquanto a manchete da primeira destacava: "Áudio sugere que procurador atuou em delações da JBS", o segundo optou por: "Janot denuncia Lula, Dilma e PT por organização criminosa". Em um caso, as dificuldades da Lava Jato foram ressaltadas; no outro, obscurecidas pela manobra, típica do "spin", de criar, no mesmo dia, fato capaz de se sobrepor noticiosamente ao anterior.

Na quinta, entretanto, os dois jornais saíram com as mesmas palavras no alto das capas, anunciando o "pacto de sangue" que Palocci afirmara ter ocorrido entre Lula e Emílio Odebrecht no final de 2010. Não houve acaso. A expressão utilizada pelo ex-ministro no interrogatório dirigido por Sergio Moro foi dita sob medida para caber nos títulos principais da imprensa do dia seguinte.

Na ausência de provas, é impossível saber se é verdadeira, mas a afirmação de Palocci, pela proximidade que teve com o ex-presidente, constitui o pior momento para o lulismo desde o início da Lava Jato. Palocci tentou fornecer o elo entre recursos públicos e supostos favores empresariais, ligação da qual Curitiba precisa desesperadamente, e, ao mesmo tempo, comprometer a imagem do ex-mandatário enquanto condottiere popular, pois o seu acordo sanguíneo deveria ser com o povo, não com os ricos.

Não se consegue prever, com tanta antecedência, como o eleitorado vai reagir quando chegar a hora do voto. Mas a desmoralização da Lava Jato e a nódoa lançada sobre o lulismo fazem temer um longo período marcado por desesperança e retrocesso.


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