Folha de S. Paulo


São Paulo, Brasil

Lalo de Almeida/Folhapress
Política 25.07.2016 - Fernando Haddad (PT) e o vice, gabriel Chalita (PDT), com Lula, que tem 8 % de aprovação. ( Foto: Lalo de Almeida/Folhapress)
O candidato à reeleição Fernando Haddad (PT), junto com seu vice na chapa, Gabriel Chalita, e Lula

A eleição paulistana costuma ser a mais nacionalizada das disputas municipais. Não porque os temas da União determinem o comportamento dos votantes. Assuntos locais pesam tanto quanto em qualquer cidade. Mas São Paulo funciona, às vezes, como indicadora de tendências. Por isso, vale o breve exercício a seguir.

Em 1985, quando ocorreu a primeira disputa direta depois da ditadura, a derrota de Fernando Henrique Cardoso para Jânio Quadros prenunciou a transformação do PMDB, que começava a deixar de ser o partido dos pobres. Já a vitória de Luiza Erundina, em 1988, antecipou a performance de Lula na corrida presidencial seguinte, que foi determinante para o futuro do Partido dos Trabalhadores. Guardadas as devidas e importantes proporções, terá a ex-prefeita pressentido algo parecido, agora em relação ao PSOL?

Em 1992, a supremacia obtida por Paulo Maluf contra Eduardo Suplicy mostrava que a ascensão petista esbarraria no fenômeno do conservadorismo popular. Com efeito, dois anos mais tarde, Cardoso sagrou-se presidente da República à frente de uma coalizão apoiada pelos conservadores. Russomanno, ex-malufista, é o continuador dessa tradição.

Quando Maluf conseguiu eleger o sucessor, o pouco conhecido Celso Pitta, podia-se imaginar que o sistema de alianças montado por FHC voltaria a funcionar para a reeleição. Dito e feito: em 1998 o tucano derrotou Lula no primeiro turno. Na quadra seguinte, contudo, a chegada ao pódio de Marta Suplicy foi o sinal de que a onda rosa — não mais vermelha — poderia levar o PT ao Planalto, como, de fato, ocorreu.

Dois pontos fora da curva foram as derrotas de Marta em 2004 e 2008, seguida da reeleição de Lula em 2006 e de Dilma em 2010. O realinhamento ocasionado pelo lulismo confundiu, por algum tempo, o termômetro da pauliceia. José Serra e Gilberto Kassab aproveitaram bem o momento. Hoje, por ironia, ambos apostam seus destinos justamente em Marta, assim como Alckmin o faz em João Doria.

A primazia de Fernando Haddad, no auge lulista de quatro anos atrás, anunciava as chances de Dilma em 2014, de fato reeleita, apesar da estagnação. Desta vez, o desempenho do atual prefeito testará a resistência do lulismo e suas chances para 2018. De algum modo, o capital de Lula ou Ciro (caso o primeiro não possa se candidatar) será "pesquisado" em 2 de outubro em Sampa. Não por acaso os dois ladeavam Haddad na convenção petista.

Do mesmo modo, a disputa entre Marta, Doria e Russomanno antecipa a corrida para ver quem carregará o troféu do antipetismo. Como Marta representa Serra e Doria, Alckmin, desconfio que Temer colocará um pé na candidatura Russomanno. A conferir.


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