Folha de S. Paulo


Horizonte mínimo

Para além de considerações menores, sobressai da entrevista com o ministro Jaques Wagner a vontade de ser realista. O governo se esforça por colocar os pés no chão e assumir a própria fraqueza, não sem um travo de amargura, como deixa claro a expressão da presidente Dilma na conversa com jornalistas quatro dias depois. O diagnóstico do núcleo planaltino no confronto com a realidade parece ser de que é bem pequena a margem de ação que teria até o fim do mandato.

Em função disso, na economia, onde a grande maioria da população sente as agruras da crise, o Executivo opta por política gradualista ao extremo. A frase do ministro, embora simples, é elucidativa: "Não acho que vamos ter crescimento em 2016, mas temos que ter um ambiente mais salutar". Em outras palavras, assume que a recessão continuará para, quem sabe, estancar em 2017. Tudo que almeja é terminar o ano com menor tensão.

Na mesma linha, o recém-nomeado para a Fazenda, Nelson Barbosa, finca pé em que não há possibilidade de apresentar qualquer plano de desenvolvimento agora. Coerente, propôs uma espécie de negociação que, sabe, vai envolver extenso período de maturação. Barbosa quer encetar uma reforma da Previdência de longo prazo em troca da confiança dos investidores.

Enquanto isso, o aumento do desemprego e a contração da demanda cuidariam de conter a inflação. O máximo que Barbosa promete de imediato é moderar algo o ajuste fiscal, o que equivale a atenuar alguns milímetros o garrote no pescoço da vítima. Saúde, educação, Estados e prefeituras continuarão à míngua, mas não fecharão as portas.

Na política, a opção minimalista representa o desastre. O PT levará uma tunda nas eleições municipais e Dilma, mesmo se escapar do impeachment, continuará acossada por pressões golpistas. Por isso, Lula e o PT cobram outra postura imediata.

Ao afirmar que o PT se lambuzou por usar, sem treino, a "ferramenta" do "financiamento privado", Wagner responde à pressão partidária com uma chamada à responsabilidade de cada um. Afinal, a crise econômica é também resultado parcial da Operação Lava Jato. O recado é: todos erramos e teremos que pagar o preço juntos, não há salvação individual.

A estratégia exposta praticamente sela a derrota do lulismo em 2018. Pelo desenho enunciado, não haveria tempo de recuperação eleitoral. Na prática, o que Dilma está propondo, tanto ao capital quanto à oposição, é que a deixem concluir o mandato em troca de passar o bastão a outro bloco daqui três anos. Se de fato houve negociação com o PMDB, como noticiou Vinicius Torres Freire, tal é o seu verdadeiro conteúdo.

O horizonte proposto é triste e ruim, mas possível.

avsinger@usp.br


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