Folha de S. Paulo


Respiro

Depois de quatro meses sob uma saraivada de golpes, Dilma Rousseff pode sair das cordas em maio.

A direção efetiva do PSDB decidiu suspender a proposta de impeachment à qual o presidente da legenda, Aécio Neves, aderira três semanas atrás. Fernando Henrique Cardoso e José Serra discordaram do movimento aecista. Ato contínuo, o próprio neto de Tancredo recuou e, na terça, 28/4, conteve, ao menos por ora, a ala golpista do partido.

Deve-se cumprimentar a resolução peessedebista. Para o Brasil é importante que a tripla afecção -econômica, de corrupção e de isolamento da presidente da República- encontre saídas não só dentro das normas legais como, também, de acordo com o espírito democrático, para lembrar lições de Montesquieu.

O trio de justiceiros se dividiu, o que igualmente alivia a pressão sobre o Planalto. Além das refregas entre a PF e o calado Janot, o mosqueteiro Zavascki começou a moderar as ações de Sérgio "Mãos Limpas" Moro. Ao tirar da prisão os empreiteiros envolvidos na Lava Jato, o ministro do Supremo esfria a escalada de revelações que alimentava o noticiário.

Isso posto, os olhares se voltarão para a votação do ajuste fiscal, que aparecerá logo mais no plenário sob a forma das Medidas Provisórias 664 e 665. Dissolvida a inusual contenda direita-esquerda, que se verificou no tema da terceirização, voltará a prevalecer a luta entre a base de apoio governista e a oposição.

Para Dilma, a aprovação das MPs é fundamental. Goste-se ou não (e eu não gosto), a escolha de Sofia em favor do ajuste recessivo foi feita por inteiro. O cálculo parece ser de que, depois de um período agudo -que pode durar mais um semestre ou até o fim de 2016-, ocorrerá crescimento em 2017.

Assim, haveria tempo para entrar no ano eleitoral de 2018 com a economia em alta. Trata-se, portanto, de aguentar o tranco agora, de maneira a terminar o mandato em condições ao menos razoáveis.

Dada a aposta acima, o PT será obrigado a cerrar fileiras em favor das MPs, de modo a garantir que os demais partidos da base, a começar pelo PMDB, sustentem a estratégia da presidente. O projeto da terceirização veio em boa hora, pois deu oportunidade ao PT de mostrar serviço à classe trabalhadora antes de sacramentar no Parlamento a opção neoliberal.

Com isso, as condições de aprovação do pacote melhoraram. Embora Cunha, com o apoio de setores do PSDB, de Paulinho da Força, do PSB + PPS, e outros, venha a fazer o possível para dificultar a tramitação do mesmo, ele corresponde à média dos interesses representados no Congresso.

Ainda em maio, virá a reforma política, com Dilma fora do foco principal. Quanto ao país, não sei, mas o governo respira.


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