Folha de S. Paulo


Íntima da dor alheia

Cinco anos sem um disco de PJ Harvey é tempo demais, mas a espera valeu: "The Hope Six Demolition Project", o nono álbum da cantora e compositora inglesa, é um de seus melhores na carreira.

O disco anterior, "Let England Shake" (2011), foi um trabalho ambicioso e de temática surpreendente. Nele, Harvey falava da participação britânica em guerras e conflitos ao longo da história. Também impressionou a sonoridade daquele álbum: no lugar da crueza e da simplicidade do blues-rock que marcara seus primeiros trabalhos, a compositora optou por arranjos grandiosos, com metais e sopros.

No novo "The Hope Six Demolition Project", PJ Harvey continua interessada em temas sociais e políticos. O disco é inspirado em viagens que fez ao Kosovo e ao Afeganistão, além de incursões por bairros da periferia de Washington, capital dos Estados Unidos.

Divulgação
A compositora inglesa em foto de divulgação do novo álbum
A compositora inglesa em foto de divulgação do novo álbum

Lá, viu os resultados de programas de moradias para populações de baixa renda que acabaram, na opinião da artista, por desfigurar os bairros originais e por expulsar seus moradores para locais mais afastados.

Musicalmente, parece um trabalho mais cru e direto que "Let England Shake". Faixas como "The Ministry of Defence" trazem guitarras distorcidas em riffs pesados e minimalistas, lembrando os primeiros discos da cantora, como "Dry" (1992) e "Rid of Me" (1993).

PJ Harvey sempre foi uma artista introspectiva, que se recusava a falar sobre os temas de seus trabalhos e fazia letras confessionais e pessoais, mas desde "Let England Shake" ela parece estar se abrindo.

Tanto que as sessões do novo disco puderam ser acompanhadas pelos fãs, como parte de uma instalação artística chamada "Gravação em Progresso".


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