Folha de S. Paulo


Fragmentos de amor e ruído

Por 30 anos, o Sonic Youth foi uma das bandas mais importantes e influentes do indie rock mundial. Sua mistura de punk, música de vanguarda e experimentos com distorção e microfonia, estes inspirados na cena "no wave" nova-iorquina do fim dos anos 70, fez da banda um modelo para muitas outras.

Para completar, o conjunto era um exemplo raro de felicidade conjugal em meio ao barulho, liderado pelo casal Kim Gordon e Thurston Moore —eles já estavam juntos em 1981, quando resolveram fundar o grupo, e viriam a se casar em 1984.

Isso durou por exatas três décadas, até colapsar em um show —acredite— em Itu, no interior de São Paulo. Em novembro de 2011, o Sonic Youth subiu ao palco do festival SWU para o que viria a ser a última apresentação da carreira.

É nesse show que começa o relato de "A Garota da Banda", autobiografia de Kim Gordon recém-lançada no Brasil. Semanas antes, Kim, 62, descobrira que Moore, 57, a estava traindo com outra mulher.

Chegava ao fim a trajetória do Sonic Youth e a de um casal que representou, para muitos, a ideia de que era possível conciliar a vida conjugal com a vida de uma banda de rock.

"A Garota da Banda" é muito bem escrito e cheio de histórias interessantes. Além de falar longamente sobre a cena artística nova-iorquina dos anos 1970 e 80, que Kim conheceu de perto, ela discorre sobre a "corporativização" do rock independente pós-Nirvana e lembra casos envolvendo personagens como Kurt Cobain, Neil Young e até Charles Manson. O irmão, Keller, depois diagnosticado com esquizofrenia, domina boa parte da narrativa sobre a juventude da artista.

Criada em Los Angeles, na Califórnia, Kim sonhava em trabalhar com artes plásticas, mas acabou fascinada pelo lado mais experimental da música, especialmente ao mudar para Nova York e ter contato com o submundo artístico e musical da cidade.

O título do livro se refere à pergunta que ela mais respondeu nesses 30 anos: "Como é ser a garota da banda?". Kim Gordon é muito mais do que isso. É uma figura central da cultura alternativa e uma das grandes criadoras do rock.

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Conexões

DISCOS

A Garota da Banda - muito bom

AUTORA: Kim Gordon
TRADUTORES: Alexandre Matias e Mariana Moreira Matias
EDITORA: Rocco (ano, 288 págs., R$ 34,50 —e-book R$ 22,50)

Demolished Thoughts - muito bom

Lançado em meio ao tsunami da dissolução do Sonic Youth, em 2011, o disco de Thurston Moore é menos barulhento e mais introspectivo que os da banda, mas nem por isso menos interessante.

AUTOR: Thurston Moore
GRAVADORA: Lab 344 (R$ 29,90)

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LIVRO

Miss Marple - Todos os Romances, Vol. 1 - muito bom

Agatha Christie (L&PM Editores, 2015, 688 págs., R$ 79,90)

Agatha Christie (1890-1976) escreveu 12 romances protagonizados por Miss Marple, uma coroa solteirona que desvenda os crimes mais intrincados usando apenas a astúcia. Esse volume reúne quatro deles: "Um Corpo na Biblioteca" (1942), "A Mão Misteriosa" (1943), "Convite para um Homicídio" (1950) e "Testemunha Ocular do Crime" (1957). Diversão garantida.

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DISCO

VI - muito bom

Circle Jerks (Roadrunner/Warner, 1987, R$ 29,90)

O disco se chama "Seis", mas na verdade é o quinto do grupo punk californiano Circle Jerks. Confuso? Talvez. Mas nada que o CJ fez desde sua fundação, em 1979, foi muito certinho. Lançado em 1987, o álbum chega ao Brasil pela primeira vez em CD e capta a banda em sua gloriosa transição do hardcore para um som mais lento e puxado para o heavy metal que viria a influenciar Nirvana e todo o grunge. Um grande disco.

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LIVROS

Rock para Pequenos - muito bom

Laura D. Macoriello. Ilustrações: Lucas Dutra (Edições Ideal, 2014, R$ 89,90 —três volumes)

Caixa com os três livros da série "Rock para Pequenos", escritos por Laura D. Macoriello e ilustrados por Lucas Dutra. Os livros trazem pequenas biografias ilustradas de personagens famosos do rock internacional e brasileiro, como Elvis, Ramones, Hendrix, AC/DC, Rita Lee, Raul Seixas e muitos outros. Uma ótima maneira de iniciar a molecada no mundo maravilhoso do barulho.


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