Folha de S. Paulo


Brasil perdeu o equivalente a quatro Estados do Rio em áreas verdes

Ayrton Vignola - 17.mai.2005/Folhapress
ORG XMIT: 405201_1.tif Área desmatada em Moraes Almeida, no Pará, região da BR-163. As fronteiras da devastação na Amazônia estão se ampliando para além do arco do desmatamento. Segundo um levantamento inédito do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) obtido pelo jornal Folha de S.Paulo, pelo menos 15% da perda de cobertura florestal de 2001 a 2003 ocorreu numa faixa de 3.000 km que vai da Terra do Meio, no Pará, a Lábrea, sudoeste do Amazonas. (Moraes Almeida, PA, 17.05.2005. Foto de Ayrton Vignola/Folhapress. Digital)
Área desmatada na Amazônia, no Pará

O momento político conturbado do Brasil -que faz o eixo gravitacional das notícias orbitar em torno da Operação Lava Jato e das delações escandalosas- nos impede, por vezes, de perceber os horrores da destruição sistemática do verde e de quem o defende.

Este é o país mais perigoso do mundo para ambientalistas, segundo a ONG britânica Global Witness, que contabilizou 50 assassinatos de ativistas em 2015 (último período analisado), um aumento de 72% em relação ao ano anterior.

Ao que parece, também é o mais perigoso para as florestas. Divulgado dias atrás, o Mapbiomas -mais completo levantamento já feito sobre cobertura vegetal do Brasil- revela que o único país com nome de árvore no mundo está perdendo a guerra contra o desmatamento.

O estudo realizado pelo Observatório do Clima e outras 18 instituições usou imagens de satélites para descobrir que, em apenas 16 anos (2000 a 2016), o Brasil perdeu aproximadamente 190 mil quilômetros quadrados de áreas verdes, o equivalente a quatro vezes o Estado do Rio de Janeiro.

Os Pampas (35% de área devastada) e os manguezais (20%) lideraram o ranking da destruição. O Pantanal, maior planície alagada do mundo, perdeu neste curto período 13% de sua área vegetada. O avanço das pastagens e das plantações de soja no Cerrado destruiu uma área equivalente a três vezes o Estado do Sergipe.

Na Amazônia, perdemos "um Uruguai" de florestas. O único bioma que seguiu na contramão dessa destruição avassaladora foi a Mata Atlântica, que ganhou quase "uma Bélgica" de área verde, para o bem dos mais de 100 milhões de brasileiros que dependem das águas que brotam de suas entranhas, entre outros serviços ambientais.

Enquanto o verde da nossa bandeira vai desbotando, um livro recentemente traduzido para o português revela novos conhecimentos a respeito das florestas. Em "A Vida Secreta das Árvores", o engenheiro florestal alemão Peter Wohlleben demonstra que as árvores têm o poder de se comunicar entre si, emitir alertas de perigo por meio de sinais elétricos transmitidos por redes de fungos e registrar com clareza quem são seus agressores, entre outras capacidades surpreendentes.

A Vida Secreta Das Árvores
Peter Wohlleben
l
Comprar

Os estudos científicos que serviram de base para as conclusões de Wohlleben sugerem que as florestas são comunidades de seres sociais, que se percebem interligados e que interagem o tempo todo.

Quem sabe esta visão mais sofisticada -e humanizada- do que sejam as florestas eleve a percepção dos governantes sobre a função estratégica das áreas verdes na regulação do clima, estocagem de carbono, produção de água e proteção da biodiversidade. Dependemos de tudo isso para termos saúde, longevidade e qualidade de vida.


Endereço da página:

Links no texto: