O momento político conturbado do Brasil -que faz o eixo gravitacional das notícias orbitar em torno da Operação Lava Jato e das delações escandalosas- nos impede, por vezes, de perceber os horrores da destruição sistemática do verde e de quem o defende.
Este é o país mais perigoso do mundo para ambientalistas, segundo a ONG britânica Global Witness, que contabilizou 50 assassinatos de ativistas em 2015 (último período analisado), um aumento de 72% em relação ao ano anterior.
Ao que parece, também é o mais perigoso para as florestas. Divulgado dias atrás, o Mapbiomas -mais completo levantamento já feito sobre cobertura vegetal do Brasil- revela que o único país com nome de árvore no mundo está perdendo a guerra contra o desmatamento.
O estudo realizado pelo Observatório do Clima e outras 18 instituições usou imagens de satélites para descobrir que, em apenas 16 anos (2000 a 2016), o Brasil perdeu aproximadamente 190 mil quilômetros quadrados de áreas verdes, o equivalente a quatro vezes o Estado do Rio de Janeiro.
Os Pampas (35% de área devastada) e os manguezais (20%) lideraram o ranking da destruição. O Pantanal, maior planície alagada do mundo, perdeu neste curto período 13% de sua área vegetada. O avanço das pastagens e das plantações de soja no Cerrado destruiu uma área equivalente a três vezes o Estado do Sergipe.
Na Amazônia, perdemos "um Uruguai" de florestas. O único bioma que seguiu na contramão dessa destruição avassaladora foi a Mata Atlântica, que ganhou quase "uma Bélgica" de área verde, para o bem dos mais de 100 milhões de brasileiros que dependem das águas que brotam de suas entranhas, entre outros serviços ambientais.
Enquanto o verde da nossa bandeira vai desbotando, um livro recentemente traduzido para o português revela novos conhecimentos a respeito das florestas. Em "A Vida Secreta das Árvores", o engenheiro florestal alemão Peter Wohlleben demonstra que as árvores têm o poder de se comunicar entre si, emitir alertas de perigo por meio de sinais elétricos transmitidos por redes de fungos e registrar com clareza quem são seus agressores, entre outras capacidades surpreendentes.
A Vida Secreta Das Árvores |
Peter Wohlleben |
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Os estudos científicos que serviram de base para as conclusões de Wohlleben sugerem que as florestas são comunidades de seres sociais, que se percebem interligados e que interagem o tempo todo.
Quem sabe esta visão mais sofisticada -e humanizada- do que sejam as florestas eleve a percepção dos governantes sobre a função estratégica das áreas verdes na regulação do clima, estocagem de carbono, produção de água e proteção da biodiversidade. Dependemos de tudo isso para termos saúde, longevidade e qualidade de vida.