Folha de S. Paulo


Escassez e conflitos serão maiores sem ação conjunta para crise ambiental

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Escassez de água pode aumentar demanda por ingestão de grilos

Sou daqueles que acreditam que num futuro próximo (ainda neste século) a humanidade será compulsoriamente obrigada a rever vários conceitos, hábitos e comportamentos por motivo de sobrevivência.

Por exemplo: a escassez crescente de água (que já atinge 40% da população do planeta) combinada com a desertificação do solo determinarão o aparecimento de um novo cardápio com menos proteína animal, mais algas e provavelmente insetos. A FAO já vem estimulando desde 2012 a ingestão de bichinhos como os grilos, que têm 12 vezes mais proteína do que um bife, com menos necessidade de água.

O risco de um colapso hídrico também justificará legislações severas com multas cada vez mais pesadas para quem desperdiçar esse precioso recurso. Grandes levas de refugiados ambientais expulsos de suas terras por eventos climáticos extremos ou pela elevação do nível do mar não terão para onde ir, agravando a tensão geopolítica.

Os combustíveis fósseis serão progressivamente estigmatizados pela sociedade, que, em atendimento aos apelos dos cientistas, pressionará os governos a mudar rapidamente a matriz energética para fontes limpas e renováveis. Tudo será urgente, tudo será complicado, tudo demandará a habilidade de uma nova geração de políticos que, infelizmente, ainda não apareceu.

Nossa única chance de enfrentar os cenários sombrios que se avizinham é um projeto de civilização que extrapole as fronteiras nacionais e alcance um modelo global de desenvolvimento que respeite os limites da Terra. É globalização, sim, no sentido mais inclusivo e justo possível, com regras que regulem o uso dos recursos naturais fundamentais à vida, respeitando a autonomia relativa de cada país.

Biomas, ecossistemas, bacias hidrográficas e principalmente o clima se espraiam pelo planeta ignorando a divisão territorial das nações. Ou resolvemos coletivamente a maior crise ambiental da história ou haverá mais escassez e mais conflitos. Reconfigurar o papel da ONU –ou reinventar a ONU– poderia ser o ponto de partida de um movimento em favor de outro sistema de governo e de governança.

Donald Trump vai na contramão de tudo isso. Se fracassar em seu projeto ultranacionalista, pode ajudar o mundo a perceber a urgência de um projeto coletivo. Do contrário, relaxe provando um grilo no jantar. Dizem que com mel fica gostoso.


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