Folha de S. Paulo


A obsessão por estatísticas pode gerar um efeito colateral perverso

Para sobreviver em um cenário cada vez mais competitivo, as empresas perceberam que precisam ter uma gestão profissional, com acompanhamento constante de indicadores e foco em resultados.

Cada nova estratégia deve ser precedida por um bom planejamento e pela criação de processos que ajudem os colaboradores a agir de forma organizada e eficiente. O "achismo" perdeu espaço. Hoje, as estatísticas nos dizem se uma ação funciona ou não na prática.

Essa profissionalização é extremamente positiva. Afinal, navegar sem bússola não é recomendável. Porém, a obsessão por estatísticas pode ter um efeito colateral perverso: as pessoas passam a acreditar apenas nos números e deixam de acreditar em si mesmas. Não levam em conta sua própria opinião e seu julgamento sobre aquilo que observam. Apenas seguem as tabelas.

As pessoas têm medo de errar, por isso tendem a seguir cegamente as estatísticas -assim, se algo não funcionar, sempre será possível culpar os números. O perigo é que, ao agir assim, trilhamos apenas caminhos certos e comprovados. Não encaramos novos riscos, mas também não abrimos espaço para criatividade e inovação.

É claro que os números são importantes, mas eles não podem ser os únicos a basear a tomada de decisão. Precisamos observar a realidade e refletir sobre ela, captando sinais que os gráficos não mostram. Assim, conseguimos perceber comportamentos, tendências e até mesmo ideias que ainda não se materializaram. E interpretar esses sinais antes dos concorrentes pode ser o pulo do gato de que a empresa tanto precisa para lançar um novo produto, criar uma nova estratégia ou conquistar um novo mercado.

Um profissional talentoso é aquele que tem acesso à mesma informação que os outros, mas faz análises mais completas que os demais. E como ele consegue isso? Usando seu conhecimento, seu repertório e um pouco da sua sensibilidade para ligar os pontos e chegar a conclusões.

E como diferenciar o profissional inteligente do teimoso? Quando alguém quer contrariar os números, é difícil saber se estamos diante de um colaborador talentoso ou apenas de alguém que simplesmente não aceita os fatos. A linha é muito tênue. Porém, mesmo para distinguir um do outro, não vale recorrer apenas aos dados: quem quer chegar mais longe precisa arriscar de vez em quando -e seguir a intuição.


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