Folha de S. Paulo


Robôs do ódio dominam as redes sociais

Ricardo Borges-13.12.2015/Folhapress
Estatuas em homenagem aos alunos mortos em um ataque feito por ex-aluno da escola Tasso da Silveira em 2011.
Pessoas fazem selfie com o deputado Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro

RIO DE JANEIRO - Um grupo virava a esquina marchando com o braço direito levantado verticalmente e a mão espalmada: "Anauê! Anauê!". Em direção contrária outra turma vinha gritando: "Galinha verde! Cocoricó!". O confronto, inevitável: empurrões, murros, pontapés, em frente ao antigo Lamas do largo do Machado, cujos donos apressavam-se a descer as portas de ferro.

Em 1937, ao chegar ao Rio para trabalhar como repórter, o sergipano Joel Silveira presenciou inúmeras cenas como essa. Em seu livro de memórias "Na Fogueira", descreveu a pequena guerra entre os simpatizantes de Luís Carlos Prestes e os integralistas de Plínio Salgado, os quais transformaram a cidade numa versão tropical e farsesca da República de Weimar. Até o Estado Novo de Getúlio Vargas acabar com a festa.

Reservadas as diferenças, mas não o clima de farsa, o Brasil de hoje vive tensão semelhante. Não há dia sem treta política nas redes sociais —esse grande canal da incontinência. Mesmo que você não tenha Twitter, Facebook ou WhatsApp, fica sabendo que Casagrande, depois de criticar jogadores pró-Jair Bolsonaro, recebeu ameaças de morte em seu celular.

Ou que Caetano Veloso está processando, por danos morais, os líderes do MBL (Movimento Brasil Livre) e o ator pornô Alexandre Frota. A atitude deu mais munição aos detratores: um ataque de robôs virtuais fez subir no sábado (21) a criminosa hashtag #CaetanoPedofilo.

Dominante na internet, o ódio ameaça ganhar as ruas, como no tempo de Joel Silveira. Corria tranquila a madrugada no Sat's, reduto boêmio de Copacabana, quando cerca de 20 jovens, estampando nas camisas brancas a foto de Bolsonaro, começaram a berrar na calçada: "Mito! Mito!". O pessoal não ligou, continuou tomando chope e comendo coração de galinha. E os "bolsominions" lá fora, pateticamente provocando.


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