Folha de S. Paulo


Chegou o fim do fim do livro

Luiz Felipe Silva
Livraria Linardi y Risso
Livraria

RIO DE JANEIRO - Umberto Eco (1932-2016) passou seus últimos anos de vida fugindo de jornalistas sem imaginação que sempre lhe faziam a mesma pergunta. Para encerrar o assunto, Eco participou de longo bate-papo com o roteirista Jean-Claude Carriére que deu origem a um livro cujo título é justamente a resposta que ele se cansou de dar e algumas pessoas não queriam aceitar: "Não Contem com o Fim do Livro" (Record).

A essa altura do campeonato, ninguém mais parece discordar dele. Uma alfarrabista carioca até deu uma festa para celebrar "o fim do fim do livro". Recente pesquisa revelou que o a venda de e-books responde por apenas 1,1% do faturamento das editoras brasileiras. Na Europa e nos Estados Unidos, essa participação fica em torno de 20%. O digital estabilizou-se como mais um canal de leitura, estando longe de ser o principal. Não decolou, para usar a linguagem do mercado.

O ensaio-reportagem "A Vingança dos Analógicos" (Rocco), do canadense David Sax, mostra como o disco de vinil, o filme de película, as livrarias físicas, os caderninhos tipo Moleskine também foram um dia considerados moribundos —e, no entanto, continuam firmes e fortes. Mas nenhum tão vivo como o velho livro de papel, uma invenção perfeita com mais de 5.000 anos de história, a qual Umberto Eco comparava com a colher, o martelo, a tesoura e até mesmo com a roda. Na frase não menos perfeita de Millôr Fernandes: "Livro não enguiça".

A questão hoje é diversa. Há livros demais. (E leitores de menos, mas aí é outra história). Os números impressionam. Pense em dois milhões de títulos. O mundo produz um novo livro a cada 15 segundos —milhares de cópias em papel. Com tiragem média de 2.000 exemplares, quatro bilhões de volumes saem do forno anualmente.

Diante de tal monstruosidade, está na hora de comprar um e-book.


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