RIO DE JANEIRO - Cada louco com sua mania. Ou sua gestão. Marcelo Crivella, quem sabe com inveja de João Doria e sua cruzada contra a cracolândia, resolveu comprar de vez a briga com o Carnaval.
É a maior festa do Rio —neste ano atraiu 1,1 milhão de visitantes e injetou R$ 3 bilhões na economia— e funciona como laboratório da vocação da cidade para eventos gigantes. Mesmo assim, o prefeito age como se não tivesse sido eleito para um cargo laico. Quem atua é o pastor que, em suas missões na África, costumava exorcizar o demônio no corpo das pessoas.
Ao não pôr os pés no Sambódromo e não entregar as chaves da cidade ao rei Momo, Crivella no mínimo não cumpriu seu papel de anfitrião. Prefere a evangelização. Pois é disso que trata a ameaça de cortar em 50% a subvenção distribuída às escolas do Grupo Especial (a partir de 2016, cada agremiação passou a receber o dobro: R$ 2 milhões). Os recursos seriam remanejados para dobrar as diárias (de R$ 10 para R$ 20) destinadas a crianças matriculadas em creches conveniadas pela prefeitura. Na ótica do pastor, o Carnaval, banquete da carne, é o responsável por faltar o leite das criancinhas famintas.
Polêmicas midiáticas não escondem a realidade. O governo Crivella, até o momento, é uma decepção. Cipoal de equívocos, alguns constrangedores e de gosto duvidoso: o (péssimo) serviço de táxis virou "patrimônio cultural" e o futuro Museu da Escravidão e da Liberdade poderá ser o MEL. Por que não abrir logo a franquia Mel & Dendê?
A suspeitíssima Liga Independente das Escolas de Samba, controlada por bicheiros, reagiu com outra ameaça. A se confirmar o corte da verba, não haverá desfile em 2018. Faz-me rir. Com Crivella ou sem Crivella, com liga ou sem liga, existe uma só garantia: as ruas do Rio vão brincar no ano que vem mais um Carnaval fenomenal e infernal.