Folha de S. Paulo


Me engana que eu gosto, Pezão

Mauro Pimentel/Folhapress
O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, em seu gabinete no Palácio Guanabara

RIO DE JANEIRO - O governador Pezão tem um jeito mondrongo. Não me refiro à gordura nem ao seu 1,90 m de altura, tampouco aos pés enormes, número 48, que lhe deram o apelido jocoso e merecem os cuidados eternos de uma podóloga gaúcha. A segunda acepção da palavra, segundo o "Houaiss" —não a que identifica o sujeito disforme, mostrengo—, cabe-lhe melhor. Mondrongo como indivíduo preguiçoso.

Tem preguiça de explicar que não sabe —e não tem— como resolver o problema que lhe caiu no colo, e do qual ele, vice e secretário de obras de Sérgio Cabral, não pode ser eximido de culpa. É só reparar em suas (cada vez mais raras) entrevistas: não consegue juntar lé com cré numa frase inteligível que explique a crise financeira do Rio, e que medidas deverão ser tomadas para superá-la. As ideias não se completam, perdem-se num pensamento confuso e desconexo, cheio de hiatos e reticências. Balbucia. Resmunga. Grunhe. Diante de qualquer questão, faz careta. E pede desculpas, desculpas e mais desculpas.

Agora —que atitude mais feia!— deu para enganar a população. Antes usava como argumento que lhe livraria a carantonha o fato de ter resolvido sangrar na própria carne. Sempre arranjava brecha para dizer que reduzira seu salário em 30%.

Pois, no apagar das luzes de 2016, Pezão vetou o projeto de lei que ele mesmo encaminhara à Assembleia Legislativa reduzindo os vencimentos do primeiro e segundo escalões, uma das poucas medidas de ajuste fiscal aprovada pelos deputados. O projeto também proibia o pagamento de supersalários a servidores públicos cedidos por outros governos ou empresas para compor a administração estadual.

A maioria do funcionalismo não recebeu o salário de novembro nem o 13º. Mas, com a virada de mesa, não vai faltar dinheiro ao governador para pagar a personal podóloga.


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