Folha de S. Paulo


Rubem Braga e Mário de Andrade, dois bicudos que não se davam

Victor Moriyama/Folhapres
SAO PAULO, SP, BRASIL. 24/06/2013. Museu da Lingua Portuguesa inaugura hoje exposicao com sobre o escritor Rubem Braga em comemoracao ao seu centenario; (Fotos: Victor Moriyama/Folhapress, ILUSTRADA) © Folhapress 2013 - Todos os direitos reservados.
O escritor Rubem Braga

RIO DE JANEIRO - Qual a razão da treta entre Rubem Braga e Mário de Andrade, dois dos mais influentes escritores brasileiros do século 20? Era sabido que os bicudos jamais se beijaram, e a leitura de "Os Moços Cantam & Outras Crônicas Sobre Música" –um dos três títulos de uma caixa recém-lançada– põe mais lenha na fogueira da vaidade literária.

Em texto que permanecia inédito em livro, publicado em 1957 no "Diário de Notícias", Rubem Braga conta que, em cartas, o autor modernista se referia a ele como "asa negra da minha vida". Macabro, não?

O cronista desconfia que a hostilidade começou durante a Revolução de 1932. Com 19 anos, Braga cobriu a revolta armada contra Getúlio Vargas, chegando a ser preso como espião. O paulista não teria gostado do tom irônico das reportagens. Um ano depois, os dois se encontraram na redação do jornal "Diário de São Paulo". Braga, que ocupava a mesa ao lado daquela em que Mário vinha à noite escrever sua crítica de música, tentou uma aproximação –mas não foi bem recebido. Logo "ele, que antes e depois dessa fase cultivava com um fervor até exagerado o convívio dos moços, e não raro dava excessiva importância ao que os novos faziam ou escreviam".

Já tendo se transformado no velho Braga, com as vastas sobrancelhas e o bigode em forma de trapézio que lhe conferiam um ar ainda mais carrancudo, o "Sabiá da Crônica" não poupou bicadas: "Em assuntos de amizade, tenho horror dessa história de 'trocar de bem' e 'trocar de mal', e o maior tédio a confissões, acertos de conta, explicações sentimentais com homens".

O fato é que Rubem Braga foi, entre os jovens intelectuais dos anos 1930, o único que não recebeu uma carta do guru Mário de Andrade. Se tivessem trocado um bilhetinho que seja, poderiam ter sido amigos. Ao menos, por correspondência.


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