Folha de S. Paulo


Centenário de Silas de Oliveira revela um mistério do samba

Manoel Soares- 6.jan.1972/Agência O Globo
Rio de Janeiro (RJ) - 06/01/1972 - Silas de Oliveira (compositor) - Foto Manoel Soares / Agência O Globo - Sem negativo ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O compositor Silas de Oliveira

RIO DE JANEIRO -" Silas de Oliveira adorava um "lençol". Aquele samba-enredo que discorria sobre temas históricos, com riqueza de detalhes, datas, nomes e, indispensável, adjetivos triunfais. Por isso mesmo, eram extensos, dando a impressão de "cobrir" a escola em todo o desfile na avenida.

Para se ter uma ideia, em 1951 Silas mencionou, para o enredo "61 Anos de República", os nomes de oito presidentes em ordem cronológica. De Deodoro a Hermes da Fonseca, culminando em Getúlio Vargas. O resultado foi uma cobertura musical de 19 versos na primeira parte e 16 na segunda.

Só ou com parceiros (o principal deles Mano Décio da Viola), e sempre para o Império Serrano, ele compôs 16 sambas, de 1950 a 1969, entre os quais os antológicos "Aquarela Brasileira" (1964) – talvez o mais conhecido título do gênero, com dezenas de gravações e obrigatório em qualquer roda de botequim — e "Heróis da Liberdade" (1969), que empolgou as arquibancadas mas deu dor de cabeça aos milicos da ditadura.

O meu preferido de Silas de Oliveira — que é considerado o maior compositor de samba-enredo de todos os tempos e cujo centenário de nascimento se comemora hoje — é "Cinco Bailes da História do Rio", com o qual o Império desfilou no Carnaval de 1965, no marco dos 400 anos de fundação da cidade.

Aula de história que se encerra com pompa no rega-bofe da Ilha Fiscal, de beleza melódica e harmonia incomum, de versos inspirados ("Eu e meu amigo Orfeu/ Sedentos de orgia e desvario/ Cantaremos em sonho/ Cinco bailes da história do Rio"), apresenta como compositora Ivone dos Santos, mais tarde Dona Ivone Lara. Quem completa a trinca de parceiros é certo Bacalhau, que entrou no samba com o apelido — e, dizem, uma enorme sede de cerveja.

Quem é e o que fez o Bacalhau é um dos maiores mistérios do samba.


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