RIO DE JANEIRO - As pesquisas apontam que nas eleições cariocas o índice de votos em branco e nulos tem oscilado entre 15% e 20%. Um impressionante segundo lugar, bem à frente dos cinco candidatos que duelam cabeça a cabeça para chegar ao segundo turno. "É de espantar que o número não seja bem mais alto", disse um amigo, mergulhado na trincheira dos desiludidos.
É possível que, em razão da curta campanha, alguns eleitores só venham a decidir-se por sicrano ou beltrano em cima da urna. Mas é mais provável que eles estejam fartos de tantos fulanos deitando falação com as promessas de sempre. E tome creche, e tome hospital, e tome escola, e tomem VLTs e BRTs. Ainda há lugar para a demagogia de alto risco — vamos armar a Guarda Municipal! — ou propostas na contramão do moderno planejamento urbano — vamos construir estacionamentos no Centro!
Só não dizem como conseguirão os recursos. Ao menos para manter funcionando a capital de um Estado prestes a decretar falência. Investimentos de quase de R$ 38 bilhões, como vimos nos últimos oito anos, com a perspectiva da Copa do Mundo e Olimpíada, nunca mais tão cedo.
Não precisa ser cientista político para explicar o fenômeno dos anuladores convictos. Ao lado destes, ainda há os que ousam recusar o direito obrigatório do voto. No Rio existe a tese galhofeira segundo a qual só metade dos eleitores mostraria a cara se o voto fosse facultativo e o dia fosse de sol.
Mas persiste o medo de não mais poder tirar ou renovar o passaporte ("Mamãe, eu quero ir a Miami e quero voltar"). Em outros tempos, havia o camarada que, mediante um caldo de cana e um pastel de carne, carimbava o título: "Ausência justificada". Hoje, se você faltar sem justificar, paga um multa que varia de R$ 1,05 até R$ 3,51 por turno ausente. O pastel e o caldo saíam mais caros.