Folha de S. Paulo


Samba de Cartola denuncia agressão a mulher

Divulgação
Cena do documentário
Cena do documentário "Cartola - Música para os Olhos", de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda

RIO DE JANEIRO - Cartola está — como se diz mesmo? — bombando em São Paulo, com a exposição "Ocupa Cartola" que abre no sábado (17) no Itaú Cultural e o musical "O Mundo é um Moinho", em cartaz no Teatro Sérgio Cardoso. Ao menos a caixa com três CDs "Todo Tempo que eu Viver", que acaba de sair, pode-se comprar no Rio - e matar saudades.

Angenor (o ene a mais foi pinimba do escrivão) de Oliveira se tornou conhecido fora de Mangueira no início da década de 1930, quando passou a ser gravado por Francisco Alves e Mário Reis. Na época andava na moda "o samba de malandro", com sua aversão ao trabalho, o que atrapalhava a política do ditador Getúlio Vargas de fazer do gênero a música nacional por excelência. Cartola não o praticava, mas por outro motivo. Por deselegante, para dizer o mínimo, que essas composições eram.

Nelas, a mulher aparecia como saco de pancadas. Dois exemplos, entre os mais agressivos: "Mulher de Malandro", de Heitor dos Prazeres ("Ela vive com tanto prazer/ Quanto mais apanha/ A ele tem amizade/ Longe dele tem saudade") e "Amor de Malandro", de Ismael Silva ("Se ele te bate/ É porque gosta de ti/ Bater em quem não se gosta/ Eu nunca vi").

Cartola era um nobre. Sobretudo no trato com as mulheres. Basta lembrar que, no clássico "Tive Sim", ele prefere calar a magoar seu amor. Ai, ai... Ai, ai...

Vestiu a camisa feminina para fazer um samba de breque, "Vou Contar Tintim por Tintim", que é uma resposta e um aviso aos valentões, bem antes da Lei Maria da Penha: "Fui tão maltratada/ Foi tanta pancada que ele me deu/ Estou toda doída/ Estou toda ferida/ Ninguém lá em casa apareceu/ Eu vou ao distrito/ Está mais do que visto/ Isto não fica assim/ Vou contar tintim por tintim".

E ainda termina com a advertência, no breque: "Vou arranjar um português".


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