Folha de S. Paulo


Escritor John Banville tem ousadia e picaretagem em doses certas

Brendan McDermid - 8.nov.2005/Reuters
ORG XMIT: 101001_1.tif Literatura: o escritor John Banville durante entrevista, em Nova York, EUA. Booker prize winning author John Banville talks during an interview with Reuters in New York November 8, 2005. The Irish writer was the surprise Booker winner this year with his
O escritor John Banville durante entrevista em Nova York, nos EUA

RIO DE JANEIRO - Para rebater a ressaca olímpica, peguei na estante, ao acaso, um livro de John Banville. O escritor irlandês possui, em doses certas, a ousadia e a picaretagem dos verdadeiros artistas. É um estilista da língua inglesa, volta e meia comparado a Nabokov, e sempre bem cotado para o Nobel nas casas de apostas de Londres. Suas principais obras estão traduzidas no Brasil. Para entrar no seu universo de imposturas, recomendo "O Livro das Provas".

Se não bastasse, assinando como Benjamin Black, escreve a melhor literatura noir da atualidade, protagonizada pelo patologista Garret Quirke, e já levada às telas da BBC. Com o "nom de plume", conseguiu a façanha de criar uma nova aventura do detetive Philip Marlowe, recuperando a atmosfera das tramas de Raymond Chandler e a voz, ao mesmo tempo sentimental e rude, do narrador em primeira pessoa.

O sucesso do pseudônimo é tanto que, nos pesadelos de Banville, está um dicionário de escritores editado em 2080 no qual se lê no verbete destinado ao autor de "O Mar": "Banville, John. Ver Black, Benjamin".

Pois não é que agora ele resolveu fazer uma continuação de "Retrato de uma Senhora"? É o primeiro grande romance de Henry James (1843-1916) e, para muitos críticos, sua obra máxima. A heroína é Isabel Archer, jovem americana que vai viver na Europa e herda uma fortuna. Parece enredo de folhetim, embora o autor, com suas sutilezas e frases intermináveis, proponha o contrário do entretenimento leve.

Banville acha que está se transformando num papagaio. Dizendo-se apaixonado por Isabel Archer, afirma que não é ele nem Benjamin Black que está escrevendo a "sequel" da obra de James, mas uma terceira pessoa. O que lhe dá a oportunidade de se levantar e ir beber um café e, na volta, ao olhar o último parágrafo escrito, perguntar: "Como vai isso?"


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