Folha de S. Paulo


Trabalhadores informais da Vila deviam ganhar medalhas

Ricardo Borges/Folhapress
Austrália entrega o mascote de pelúcia, o canguru boxeador, ao prefeito Eduardo Paes após ganhar a chave da Vila Olímpica, no Rio
Delegação da Austrália entrega o mascote de pelúcia, o canguru boxeador, ao prefeito Eduardo Paes

Rio de Janeiro - Era um personagem do qual Ivan Lessa, morando em Londres, sentia saudade. Aquele que resolvia os problemas domésticos que, quase todas as semanas, estouravam (literalmente) nos apartamentos da classe média: "A pia entupiu, chama o homem da pia. O ar-condicionado pifou, chama o homem do ar-condicionado. E era aquela fila de homens na porta da casa", escreveu Ivan numa crônica sugestivamente intitulada "O Homem Brasileiro".

Com a Olimpíada, ele voltou em grande estilo. O faz-tudo, o quebra-galho, o rei do jeitinho, o ás do gatilho. Tanto que o Comitê Rio-2016 devia dar uma medalha de ouro a cada um dos 630 homens que trabalharam redondo, durante sete dias e sete noites, para deixar a Vila dos Atletas minimamente habitável.

Foram tratados como trabalhadores informais, sem anotação de registro nas carteiras de trabalho. Mas tiveram seus privilégios: não passaram pela checagem realizada pelo Ministério da Justiça em todas as credenciais que permitem acesso às instalações dos Jogos. Nossos mortais da gambiarra misturaram-se aos deuses olímpicos numa boa. Quem falou aí em paranoia terrorista?

A maior zica continua com os australianos que, depois do episódio dos cangurus, deixaram às pressas o prédio em que estão hospedados devido a um alarme de incêndio. Foi tempo suficiente para o furto de notebooks e uniformes.

Até o que parecia um pódio certo — distribuição de 450 mil camisinhas ao longo da competição, um recorde na história da Olimpíada — está se revelando mais uma furada (espera-se que não literalmente). A empresa contratada para distribuir preservativos e lubrificantes íntimos está sob investigação da Polícia Federal em inquéritos que apuram fraudes no Ministério do Esporte.

No caso das camisinhas, não dá para chamar o homem da pia. Ou dá?


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