Folha de S. Paulo


Malandro atrapalhado

RIO DE JANEIRO - Naquele domingo 1º de fevereiro de 2015, ao ser eleito presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha era o pimpão em pessoa. Cercado por acólitos que o ovacionavam, prometeu mundos e principalmente fundos (equiparar os salários dos deputados com os de ministros do Supremo Tribunal Federal, teto do funcionalismo público). Passou a mandar e desmandar na Casa, como fez na condução do processo de impeachment de Dilma Rousseff.

Quem te viu, quem te vê. Hoje, aparentemente, não manda mais nada. Desde que foi afastado do cargo e do mandato pelo Supremo, vive recluso. Mesmo que a Corte negue o pedido de prisão feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, medidas restritivas podem ser aplicadas a Cunha, como o uso de tornozeleira eletrônica e — ao menos por enquanto — a prisão domiciliar.

No mesmo dia em que o Conselho de Ética aprovou o parecer favorável a sua cassação, a Justiça Federal no Paraná determinou a indisponibilidade de todos os seus bens e contas. Seu destino pertence ao plenário da Câmara. Sua última opção? A renúncia.

Dizem que, como os gatos de sete vidas, Cunha não morre fácil, e, se morrer, cairá atirando. Cá para nós, com todo o seu sotaque carioca, parece que ele se esqueceu de um preceito da antiga Lapa: malandro demais se atrapalha.

Depois de perder os direitos políticos, Cunha devia ser obrigado a vir a público — quem sabe em frente àquela casa dele numa rua da Gávea, cuja numeração era 171 — e explicar por que diabos seu apelido é Caranguejo. Era assim que ele era identificado nas planilhas da Odebrecht, sobre as quais ninguém mais fala. Será pelo jeito de andar meio de lado? Pela carapaça larga e unhas pontudas? Por viver na lama? Ou algum outro motivo secreto?

Só depois dessa revelação ele poderá partir para a delação premiada.


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