Folha de S. Paulo


A dona da palavra

RIO DE JANEIRO - A brincadeira surgiu no Galeto Sat's, em Copacabana, a melhor saideira da zona sul: uma campanha na internet para fazer do garçom Agnaldo o acendedor da pira olímpica no Maracanã, em agosto. Afinal, de fogo ele entende, seja o dos clientes do bar, seja o utilizado para preparar linguiças e corações de galinha. Se não desse, ao menos que a tocha, em seu périplo, passasse para acender a churrasqueira. Pois não é que o comitê organizador da Rio-2016 implicou com a farra, mandando avisar à turma do Sat's que não há autorização para o uso da imagem da tocha?

Não foi a única vez. Rodrigo Ferrari, da livraria Folha Seca, na rua do Ouvidor, recebeu um e-mail do mesmo comitê com uma repreensão por ter afixado na fachada um banner, com ilustração de Cássio Loredano, onde se lia: "2016 - Ano olímpico Adhemar Ferreira da Silva na Folha Seca".

A palavra "olímpico" não poderia ser usada porque infringe direitos da Olimpíada - ou os interesses comerciais que ela representa. O recado é claro: a palavra tem dono. O episódio faz lembrar outra exigência descabida: a grafia obrigatória "paralímpico", que soa errado em nosso idioma, em substituição a paraolímpico.

Especializada em temas cariocas, a livraria todo ano prepara um cartaz comemorativo - em 2014, com a Copa do Mundo, o eleito foi Pelé. A Fifa não chiou. Há tradição de prática esportiva por lá. Loredano é um ex-corredor dos 110 metros com barreira. Ferrari, meia-direita do Gelobol, time de pelada da Folha Seca. A qual terá um representante oficial nos Jogos do Rio: Maurício Cordeiro, o Lito, um dos mais antigos frequentadores, foi escolhido para carregar a tocha, depois de superar um hematoma subdural e virar ultramaratonista aos 54 anos.

Depois reclamam que o carioca não está nem aí para o negócio da Olimpíada.


Endereço da página: