Folha de S. Paulo


Diplomatas: noções básicas

O termo "diplomata" é usado para um monte de coisas. É nome de chocolate, de automóvel e da suite mais cara do motel. Quer indicar qualidade e requinte, mas muita gente não sabe o que um diplomata faz de verdade.

A explicação mais simples é que diplomatas são os agentes da política externa de um país. No caso do Brasil, são funcionários públicos concursados e graduados pelo Instituto Rio Branco, que completa este ano 70 anos de fundação e integra o Ministério das Relações Exteriores, também conhecido como Itamaraty.

É um corpo funcional pequeno (1572), formado nas melhores universidades do Brasil e do exterior. O exame de seleção para a carreira diplomática é dos mais difíceis. Neste ano, mais de 6.000 candidatos disputam apenas 30 vagas.

A ideia é que os diplomatas incorporam e representam o Estado brasileiro no exterior. Em suas missões, quaisquer de seus atos pessoais podem tomar dimensão oficial.

Como circulam no reino da oficialidade, seus interlocutores naturais são as autoridades do país em que atuam. Na defesa dos interesses nacionais, fazem amigos e influenciam pessoas que influenciam a tomada de decisões e a opinião pública.

Mas diplomata não transita só nas elites. Quando trabalhava no Itamaraty, tratei com pessoas de todo o espectro social. Negociei acordos em Nova York e estive no aniversário do Imperador do Japão; da mesma forma, participei de reuniões em favelas no Benin e atendi a vítimas brasileiras de violência doméstica no Chile.

É como se os diplomatas emprestassem seu corpo ao país. Não se resolvem questões internacionais sem olho no olho e aperto de mão. E são os olhos e as mãos do diplomata que estão lá, cumprindo essa tarefa, em qualquer lugar do mundo. Tem gente em Adis Abeba, Belmopan, Cartum, Daca, Estocolmo —e todo o resto do alfabeto— fazendo isso.

A visão estereotipada e passadista de que os diplomatas são uns privilegiados que fumam charuto e levam uma vida de glamour é simplória. Em sua realidade quotidiana, a vida diplomática exige mais do que as pessoas costumam conceber.

Para completar a carreira, o diplomata brasileiro tem de viver o mínimo de dez anos no exterior. (O Itamaraty mantém 227 postos em 150 países.) Por razões profissionais, muitos vivem fora bem mais que isso.

E não existe privilégio em não chegar a tempo para o enterro da mãe porque você mora do outro lado do planeta, nem em saber que seu cônjuge teve de abrir mão do trabalho para acompanhar você em sua missão. Tampouco é vantagem ver um filho adolescente chorando porque vai mudar de escola (e de língua) pela quinta vez.

Mas não tem jeito: enquanto houver países, os governos precisarão de agentes que executem suas relações exteriores. Alguém terá sempre de cumprir essa função.

É aí que entra o diplomata: o mundo é grande, as coisas não param de acontecer...


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