Folha de S. Paulo


Em meio a tragédias, chefs usam comida para consolar vítimas nos EUA

Desde que Trump assumiu a presidência, uma nuvem negra paira sobre os Estados Unidos e racistas e nazistas sentem-se mais livres para mostrarem as suas garras. O clima piorou com a queimada descontrolada de centenas de quilômetros quadrados nos vales de Sonoma e do Napa, capital americana do vinho.

Uma legião de chefs acudiu as vítimas dos incêndios (houve mais de 40 mortes) que dizimaram parcial ou totalmente muitas vinícolas. Guy Fieri, famoso que estrela um show no Food Network, ligou para o Exército da Salvação da região e pediu para ir cozinhar. Fez porco desfiado, macaroni e queijo e frango assado por cinco dias, servindo cerca de 25 mil refeições. O chef Dustin Valette do restaurante Valette, no vale de Sonoma, despachou os funcionários para casa e fez comida sozinho e sem parar, por dias, para bombeiros e times de resgate.

E tem muito, muito mais! A ONG Mercy Chefs (Chefs com Piedade) convocou profissionais de outros Estados e uma cozinha móvel para alimentar milhares de pessoas atingidas pelo desastre. A empresa Off the Grid, que faz eventos com food trucks, despachou vários deles para as áreas afetadas. O civismo coletivo de tantos cozinheiros tem sido forte bálsamo para as feridas: comida mata a fome, mas também conforta e consola. Mais uma vez, os americanos estão demonstrando sua vocação para a benemerência, algo que faz parte da cultura e é ensinado na infância.

Ironicamente, José Andrés, o chef que mais alimentou americanos necessitados nos últimos tempos, é um imigrante espanhol com sotaque bem grosso, do gênero que Trump e sua patota desprezam. Dono de vários restaurantes de sucesso e sediado em Washington D.C., pegou um avião para acudir as vítimas do furacão Maria em Porto Rico, respaldado pela equipe da ONG World Central Kitchen. No dia 17, contaram no Twitter que já haviam servido mais de um milhão de refeições.

A generosa e eficaz reação de cozinheiros a essas recentes tragédias naturais em solo americano sublinham o elo entre comida e política, chefs e responsabilidade social.

Há anos cozinheiros reclamam, em congressos, o direito de ajudarem a mudar o mundo para melhor. Mas é quando fazem em vez de falar que eles mostram que podem, sim, fazer isso.


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