Folha de S. Paulo


Restaurante em Bordeaux mostra que Gordon Ramsay deu a volta por cima

James Dimmock/FOX
HOTEL HELL: Chef and Hospitality expert Gordon Ramsay will travel across the country to fix struggling hotels, mediocre motels and just plain bad bed & breakfasts with a two-night series premiere event airing Monday, Aug. 13 (8:00-9:00 PM ET/PT) and Tuesday, Aug. 14 (8:00-9:00 PM ET/PT) on FOX. ©2012 Fox Broadcasting Co. Cr: James Dimmock/FOX ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O chef Gordon Ramsay

Faz tempo que risquei da lista de chefs que admiro o Gordon Ramsay, um escocês francófilo que se formou em templos gastronômicos de Paris. Quando eu era adolescente, achava-o fenomenal, um ás em cozinha francesa.

Os longos e formais almoços com meu pai nos restaurantes estrelados que o chef tinha em Londres ensinaram-me muito do que sei sobre boa mesa. O cappuccino de cogumelos que servia no extinto Aubergine, em especial, nunca me sairá da memória.

Desde os anos áureos de Ramsay, na década de 1990, muita água passou debaixo da ponte. Virou uma das maiores celebridades televisivas do mundo. E, por expandir rápido demais o seu império, errou a mão em alguns casos, tendo que fechar, entre outros, seus dois Gordon Ramsay at the London, nos Estados Unidos. Seu único sucesso inabalável é a joia da coroa: o Restaurant Gordon Ramsay, em Londres, que tem a cotação máxima de três estrelas no guia "Michelin".

A sensação, quando assisto a cenas de seu programa "Hell's Kitchen" (ou "Inferno na Cozinha", com direito a labaredas na vinheta de abertura), é de que Ramsay vendeu a alma ao diabo. Ficou riquíssimo graças à televisão e à multiplicação de casas com seu nome, mas distanciou-se da cozinha.

Daí minha surpresa quando jantei, um dia desses, no Le Pressoir d'Argent, inaugurado em 2015 em Bordeaux. Chique e caro, impressionou-me pelo anacronismo (muito bem-vindo!) do serviço à moda antiga. Como diz o próprio Ramsay, o Pressoir "deixa qualquer pessoa tocada pela história".

O chef famosamente ambicioso parece desejar, com esse restaurante elegantemente decorado, de mesas espaçadas e decanters imensos de cristal soprado à mão, mostrar que ainda sabe fazer alta cozinha francesa.

O fato de estar instalado no hotel mais belo e histórico de Bordeaux, uma das capitais francesas da boa mesa, é de certa forma uma provocação. É como se, com francesices como pombo e foie gras no menu, imenso carrinho de queijos e uma prensa de prata para espremer carcaças de lagosta (que dá nome ao restaurante), quisesse mostrar a França aos franceses.

Em fevereiro, o Le Pressoir d'Argent ganhou sua segunda estrela "Michelin", um feito e tanto. Sou obrigada a tirar o meu chapéu e admitir que o subestimei. Touché!


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